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Quase 200 genes estão ligados ao câncer

Primeiro mapa genético da doença mostra que eles são mutantes e ajudam a propagar dois tipos de tumores

O primeiro mapa genético do câncer mostra que quase 200 genes mutantes - a maioria até então desconhecida pelos cientistas - ajudam tumores de mama e de cólon (uma região do intestino) a surgir, crescer e se espalhar no corpo. Os dois tipos de câncer matam, juntos, 1,1 milhão de pessoas no mundo por ano. A descoberta, descrita hoje na revista Science, pode abrir espaço para novos tratamentos, melhores diagnósticos e mais conhecimento sobre a doença.

Para Kenneth Kinzler, da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, nos EUA, um dos autores do estudo, o mapa mostra que o câncer é mais complexo do que se pensava. "Existem muitos genes mutantes. Muita coisa parece sair errada", afirma. "Esperávamos achar alguns genes, não 200", acrescenta Tobias Sjoblom, que coordenou a pesquisa.

A equipe analisou 11 amostras de tumores de mama e cólon retiradas de pacientes. Foram identificados 189 genes, uma média de 11 por tumor, que claramente mudaram no câncer. "Não se sabia que a grande maioria desses genes mudava em tumores. Eles parecem afetar também diversas funções celulares, como transcrição, adesão e invasão."

Essas mutações genéticas fazem com que as células do organismo se comportem de forma anormal. Defeituosa, a célula perde a capacidade de "se suicidar" (função indispensável para a renovação do organismo) e começa a crescer e se reproduzir de forma rápida e descontrolada. É assim que se formam os tumores. As células normais não conseguem competir com as do tumor e acabam morrendo. Conforme as células cancerosas substituem as normais, os tecidos invadidos perdem suas funções.

Atlas do câncer

O estudo pode guiar um projeto dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, lançado em dezembro, de mapear todos os genes envolvidos no desenvolvimento da doença.

"Antecipamos que, à medida que o atlas do genoma do câncer caminhe, conseguiremos identificar a maioria das mudanças genéticas que causam as formas mais importantes e comuns dos principais tipos", disse o coordenador do atlas, Francis Collins.

A intenção é ampliar a aplicação do conhecimento genético na criação de drogas mais eficientes. "Praticamente qualquer gene pode ser considerado um alvo terapêutico", diz Kinzler. "Estamos convencidos de que esse tipo de estudo fornecerá um dos melhores mapas para vencer o câncer. Quem deixa escapar a oportunidade de ler o plano do inimigo?" O estudo também pode ajudar na personalização do tratamento.

Projeto Genoma estuda doença

O Projeto Genoma do Câncer Humano, dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, é um plano científico audacioso e promissor. Tem um custo planejado de US$ 1,35 bilhão dividido em nove anos e visa a formação de um atlas com todos os genes envolvidos nos principais tipos de câncer, do gatilho que leva a seu desenvolvimento ao gene, ou genes, que permitem e promovem a viagem de uma célula cancerosa pelo corpo, a perigosa metástase.

A intenção é determinar a seqüência de DNA de 250 amostras dos 50 principais tipos de câncer - 12.500 exemplares. Elas seriam comparadas entre si e com a seqüência do tecido saudável.

Cada célula de tumor tem estrutura completa de DNA humano: 3 bilhões de letras do código genético. Ou seja, determinar a seqüência de todos os tumores equivaleria a fazer 12.500 versões do Projeto de Genoma Humano. O trabalho, publicado hoje na Science, mostra que o atlas é viável e pode trazer surpresas.


Data: 11/09/2006