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Gene faz envelhecer, mas evita tumor

Proteína identificada por cientistas americanos impede o surgimento de cânceres ao deter renovação celular

Há males que vêm para o bem - e o corpo humano carrega exemplos da legitimidade desse ditado, como mostram cientistas americanos. Eles descobriram que um determinado gene faz com que as células parem de se renovar à medida que a vida passa, o que causa diversos sintomas da velhice. Mas, por outro lado, o mecanismo parece impedir a multiplicação sem controle das células, que leva ao câncer.

A renovação celular é essencial para que o corpo se mantenha ativo e todos os órgãos funcionem corretamente. Com o passar dos anos, a capacidade cai. Três grupos de cientistas dos Estados Unidos foram atrás do motivo.

Eles sabiam que células-tronco de mamíferos acumulam uma certa proteína com o tempo. Para saber exatamente seu papel, os cientistas "desligaram" o gene dessa proteína em roedores transgênicos. "O pior foi esperar dois anos até os camundongos envelhecerem", conta a brasileira Anna Victoria Molofsky, da Universidade de Michigan, uma das autoras da pesquisa.

Sem a proteína para frear o processo, os animais tinham mais células-tronco na medula óssea. No cérebro, certos neurônios se renovaram. No pâncreas, as ilhotas de Langerhans, que produzem a insulina e evitam a diabete, continuaram a se proliferar.

Os loucos pela juventude eterna podem achar então que basta desligar esse gene para enganar o envelhecimento. Mas os cientistas descobriram que o preço seria bastante alto.

O mesmo gene que mantém os tecidos funcionando por mais tempo é essencial para evitar o surgimento do câncer. "A expressão dessa proteína nas células aumenta com o passar do tempo para evitar sua multiplicação desenfreada", explica Anna. É essa atividade defeituosa que forma tumores.

A ligação entre a proteína e os cânceres já era conhecida, diz a pesquisadora: ele não é encontrado em tumores de pele, por exemplo. Os camundongos que não tinham o gene e, por conseqüência, a proteína, começaram a morrer de diversos tipos de câncer. Não se pode dizer, portanto, que perder o gene é garantia de vida longa.

"Em princípio, esse trabalho sugere que, se tivermos uma droga que iniba a função desse gene, ela poderia ser administrada em pacientes mais velhos para melhorar a regeneração de seus tecidos depois de ferimentos e enfermidades ou para conter doenças degenerativas", diz Sean J. Morrison, também da Universidade de Michigan e líder do trabalho com neurônios. Antes, ele lembra que é preciso descobrir o mecanismo molecular que faz o gene atuar.

O mesmo conselho é dado pelos cientistas Christian Beausejour e Judith Campisi, que comentam a descoberta num artigo na revista Nature (http://www.nature.com), onde os trabalhos serão publicados em breve. Segundo eles, é preciso saber mais sobre essa proteína "antes que essas descobertas extraordinárias possam ser aplicadas em terapias para promover uma longevidade efetiva".


Data: 11/09/2006