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Mata atlântica abriga floresta subaquática

Biólogo registra, em seis meses, 79 espécies de microalgas em reserva ecológica com 25 hectares de Moreno, no Oeste do Grande Recife

A diversidade biológica da mata atlântica vai além de árvores e animais. Estudo iniciado em março num remanescente de 25 hectares do Grande Recife revela a presença de 79 tipos de microalgas, a maioria registrada pela primeira vez em Pernambuco.

O responsável pelo levantamento chama esse celeiro de espécies submersas de "floresta invisível" e acredita que o número de achados triplicará até o fim do estudo, com duração de um ano.

"Esperamos encontrar mais de 200 espécies", diz Antônio Travassos Júnior, do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep).

O pesquisador também está comparando a diversidade de algas da Reserva Ecológica de Carnijó, em Moreno, com a de áreas degradadas.

"Locais impactados como a Lagoa do Araçá, Lagoa do Náutico ou Açude de Apipucos abrigam apenas cerca de 50 espécies", diz. Travassos lembra que as microalgas estão na base da cadeia alimentar aquática.

"Servem de alimento para microcrustáceos que, por sua vez, são fontes de alimentos para peixes", exemplifica.

Uma das microalgas registradas em Carnijó, a Micrasterias mahabuleshwarensis, é encontrada somente em águas limpas.

"A presença dela indica que a reserva ainda guarda seu equilíbrio ecológico", explica Travassos, que ensina na Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire).

Essa espécie, curiosamente, estava aderida ao caule e folhas de uma planta carnívora. Do gênero Utricularia, a planta dá suporte para muitas das microalgas de Carnijó.

Além da planta carnívora, que se alimenta de microcrustáceos, as microalgas da reserva podem ser encontradas em riachos, igarapés, açudes e até bromélias.

Nesse caso, os microrganismos foram coletados na água que se acumula entre as folhas da planta. As microalgas, explica Travassos, geralmente fazem parte do fitoplâncton, grupo de organismos que flutuam na água.

"Mas também podem estar aderidas a substratos submersos, como caules e raízes de plantas aquáticas, que integram o que chamamos de perifíton. É o caso da planta carnívora."

Diversidade - No mundo, existem mais de um milhão de espécies de microalgas conhecidas, entre as que vivem nos ambientes marinhos e as de água doce.

"As microalgas são produtores primários da cadeia alimentar. Podem ser usadas como alimento para larvas de camarão e como organismos indicadores da qualidade da água", defende Travassos.

Causam ainda problemas em sistemas de abastecimento, quando crescem demasiadamente, produzindo odor e sabor desagradáveis à água.

"Ou produzem substâncias tóxicas, contaminando peixes, animais maiores como gado e até o homem, como é o caso da contaminação de pacientes renais em 1996, conhecida como Tragédia da Hemodiálise.


Data: 14/09/2006