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Ennio Candotti diz que motor da integração entre países da América Latina deve ser a consciência de que temos uma história em comum

O presidente da SBPC participou do III Seminário Internacional C&T na América Latina, realizado nesta quinta-feira, no Centro de Convenções da Unicamp, e defendeu o intercâmbio na formação dos jovens da região. Candotti (foto) destacou que no encontro de Buenos Aires, promovido em junho pela SBPC, AAPC e Ciência Hoy, foi proposta a criação de uma rede de agências de fomento à cooperação em C&T, semelhante ao Prosul Brasileiro.

Na ocasião, Secyt e MCT, AR e Br, concordaram e investir 2 milhões de reais de cada lado, no fomento de programas bilaterais. A iniciativa recebeu apoio de representantes da C&T de paises sul-americanos reunidos no encontro do Itamaraty, nos dias 24 e 25 de agosto, no Rio.

O presidente da SBPC reafirmou a importância do intercâmbio e das parcerias para a formação de jovens. Ele relatou a proposta apresentada no fórum do Itamaraty e também na reunião do CCT, no último dia 5, para que seja criado um programa de intercâmbio com dez mil estudantes de graduação e pós-graduação dos países da América Latina.

De acordo com a proposta, seriam concedidas cinco mil com bolsas brasileiras, o que representa um investimento de cerca de R$100 milhões.

Para Candotti, o motor da integração não pode ser apenas o mercado da economia, mas sim e com maior força, a consciência dos povos - e dos jovens - de que temos uma história comum. E mesmo uma história antiga pré-colombianana comum e uma viva memória de resistência à opressão.

Trata-se, portanto, de convocar esses jovens para a construção de um futuro melhor do que o que lhes é apresentado na região, apontou.

Mas, acrescentou Candotti, isso dificilmente será alcançado apenas por meio de acordos de comércio de vinhos e geladeiras, e nem mesmo por outros incluindo o gás e os gasodutos.

O presidente da SBPC ainda ressaltou que a integração depende de um conhecimento melhor da história comum desses povos e de seus complexos ecossistemas, climas, águas e biodiversidade. "Se nós não os estudarmos, quem o fará por nós?", questionou.

Cerca de 600 pessoas participaram do evento. Entre elas, o secretário acadêmico da Associação das Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM), Julio Theiler.

Leia também a matéria do Portal Unicamp sobre o evento:

"Será que os países da América Latina têm um projeto de nação?" Esta foi uma das perguntas do reitor da Unicamp, professor José Tadeu Jorge, em sua fala sobre a inserção das universidades no desenvolvimento dos países durante o III Seminário Internacional C&T na América Latina, realizado no Centro de Convenções da Unicamp.

O reitor também lançou, na quinta-feira (14), outras reflexões: Qual é o projeto consensual entre cada país? Como é considerada a questão da integração? Como a universidade está sintonizada com o projeto de promotora do desenvolvimento sustentável?

Segundo Tadeu Jorge, não se pode perder de vista a missão da Universidade, de formar recursos humanos na graduação e na pós, além de formular políticas públicas.

"Temos realidades diferentes nos países, assim como dentro do próprio Brasil e, por isso, qualquer generalização pode ser comprometedora", advertiu.

"Por outro lado, as universidades são ricas em conhecimento e podem trazer realimentação de pensamentos. Mas é preciso que este conhecimento beneficie e seja transformado em riqueza."

O reitor comentou ainda que a maioria dos países da América Latina não tem um projeto de nação e que este é um ponto a ser perseguido. Mencionou que há deficit de oportunidades no ensino superior.

"Precisamos também falar do Nordeste e do Norte, onde as oportunidades são menores. No Sudeste, existe até superavit nas universidades públicas e privadas".

Tadeu Jorge comparou que, em maior medida, entre as profissões responsáveis pelo ingresso no ensino superior brasileiro, as líderes são da área de Administração, com 15% das vagas do ensino superior geral.

"O que permite concluir que, dentro de pouco tempo, o Brasil será o país melhor administrado", brincou. Além disso, afirmou que os países desenvolvidos estimularam muito a formação profissional nas áreas duras, tecnológicas.

Integração

O presidente da SBPC, Ennio Candotti, abordou a importância da integração entre os países da América Latina, na primeira palestra do Seminário. Relembrou que em 1906 ocorreu o primeiro encontro científico da América Latina.

"Desde então os avanços são, no mínimo, modestos." Disse que um dos últimos encontros, em Buenos Aires, reuniu a SBPC e as universidades, que prepararam um programa de cooperação em pesquisa.

"Campinas é um dos berços de cooperação mais intensos", declarou Candotti, salientando que anteriormente os projetos eram levados ao governo e que, desta vez, o governo se adiantou, destinando-lhe financiamento.

Ele acredita que é interessante fazer uma rede de agências que fomente a pesquisa. "Já existe um acordo com a Argentina, que deve se espalhar para o Chile, Bolívia, Paraguai etc. Existem interesses para esta cooperação, faltando apenas definir metas e cronogramas. Por que não abrir um espaço cultural para o estudo deste território? Afinal, nossos estudantes conhecem mais a história do Egito do que a do Peru, e assim por diante. E vejam que nossos jovens sabem distinguir as oportunidades profissionais que se abrem mediante intercâmbio", constatou.

"Precisamos mandar para a Bolívia 5.000 jovens e receber outros 5.000", sugeriu. Candotti contestou que o futuro será construído por gasodutos ou o que classificou de atividades aduaneiras.

"Precisamos abrir estes cofres para construir um programa que interesse aos jovens. Trazer 5.000 jovens latino-americanos significa menos de 10% das bolsas que gastamos no sistema de pós-graduação", informou.

O evento foi organizado pela Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais da Unicamp (Cori), com a participação de cerca de 600 pessoas.

Destinou-se a promover discussões que ampliassem perspectivas às instituições e aos países da América Latina e para troca de experiências em C&T e desenvolvimento sustentável.


Data: 15/09/2006