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Jovens querem aulas de ética, mostra pesquisa

Estudo aponta vontade de discutir cidadania e política

Pesquisa realizada com jovens de seis capitais brasileiras mostra que eles gostariam de ter aprendido ética na escola.

O estudo qualitativo - feito por meio de entrevistas aprofundadas e não questionários com resultados numéricos - teve o objetivo de analisar a percepção do grupo sobre cidadania e política. Muitos dos entrevistados falaram da inexistência de espaços para discussão dessas questões, o que, segundo eles, acaba ocorrendo somente em casa.

"A
escola é um espaço excelente para discutir ética, porque ela é o primeiro e um dos mais importantes locais de convivência da criança", diz coordenadora pedagógica da Escola Cidade Jardim/Play Pen, Gabriela Argolo.

Há dois anos, esse trabalho é feito na instituição por meio de debates sobre os problemas do dia-a-dia dos alunos.

Os assuntos são propostos pelos próprios estudantes e podem ser algo como o uso inadequado dos banheiros, o sumiço de uma bola ou a fofoca que surge no recreio.

"Com muita discussão, e com a ajuda dos professores, eles passam da queixa para a transformação", explica Gabriela. "O princípio básico é a coletividade e o respeito ao outro."

 A aluna da Escola da Vila Olívia Gonçalves Pereira, de 13 anos, lembra de uma discussão sobre o roubo de uma caneta em sala de aula. "Tem gente que achava normal só porque não era algo de valor", conta.

No colégio, assembléias quinzenais também são realizadas pelos alunos de 1ª a 8ª série, que terminam com regras determinadas por eles mesmos. Antes da atividade, eles completam as três frases no painel que dão origem aos debates: "eu critico...", "eu felicito..." e "eu gostaria de discutir...".

"Os alunos refletem o que é certo e o que é errado e para quem é certo e errado. Essa é a vivência da ética", diz a diretora da Escola da Vila, Sônia Barreira.

O mesmo ocorre na Prima-Escola Montessori, que ensina crianças a partir de 1 ano a tirar o prato depois do lanche e arrumar a mesa em que brincou.

As crianças também são orientadas a não invadir o espaço do colega e a escolher as brincadeiras de que vão participar.

"Elas interiorizam um conceito com pequenas ações", diz a diretora Maria Angelina Franceschini Brandão. A ética também é discutida nas aulas de filosofia, que começam aos 7 anos.

A pesquisa com os jovens foi realizada pela Voltage, uma empresa especializada no estudo e aplicação de tendências comportamentais. As entrevistas foram feitas em julho, pela internet, com cerca de 30 pessoas, entre 18 e 28 anos.

Elas fazem parte de uma rede de jovens freqüentemente conectada à empresa e que a ajuda a detectar novidades em setores como moda, cinema, cultura, entre outras.

"Eles têm consciência de que não são tão bons cidadãos e queriam ter mais exemplos práticos", diz a psicóloga da Voltage, Camila Toledo Piza, que analisou a pesquisa.

"Estudar ética na escola é tão importante quanto português e matemática. O período escolar é justamente quando estamos formando nosso caráter", diz Evandro Negrão de Lima Junior, de 24 anos, que participou da pesquisa.


Data: 18/09/2006