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Farmacologia: Uso de antiinflamatórios exige cautela e orientação

Após estudo que liga droga a risco cardiovascular efeitos colaterais entram em pauta. Problemas renais, gastrites e úlceras são possíveis conseqüências para pacientes que não tem acompanhamento médico.

A divulgação de uma pesquisa na semana passada sobre o risco de problemas cardiovasculares ligados ao uso de antiinflamatórios deixou a classe médica e pacientes em alerta.

"O
problema cardiovascular é um negócio que estourou agora, mas outros problemas são sabidos e a população não está alertada", diz a reumatologista da Unifesp Evelin Goldenberg.

Os reumatologistas e os ortopedistas são os profissionais que mais prescrevem a droga.

A médica acredita que os antiinflamatórios deveriam ser vendidos com receita pois há um exagero por parte dos consumidores. "O uso é indiscriminado. A pessoa toma porque tem dor de cabeça, cólica"...

Segundo Goldenberg, o principal risco de mortalidade relacionado à droga é a úlcera gástrica. "Não tem que se preocupar só com o coração. E o rim? E o estômago"?

Os médicos afirmam que, tendo conhecimento dos efeitos colaterais, prescrevem antiinflamatórios com cautela e segurança, para quem tem realmente necessidade e não possui histórico de doenças renais ou gástricas.

Ou seja, é preciso que um médico decida quem pode tomar o remédio, por quanto tempo e em qual dose.

"Não existe medicação sem risco. Todas têm que ser prescritas e ver se o benefício é maior que o risco", adverte o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Fernando Neubarth.

Meta-análise

A nova pesquisa, realizada pela Universidade de Newcastle, na Austrália, envolveu 1,6 milhões de pacientes ao analisar o resultado de 23 outros estudos.

Apontou que o diclofenaco, presente em remédios como Voltaren e Cataflam, pode aumentar em 40% o risco de problemas cardiovasculares.

A história lembra o caso do antiinflamatório Vioxx, retirado do mercado em 2004, após estudo ter mostrado o aumento do risco da ocorrência de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais.

No entanto, até o momento, não há informações de que a droga venha a ser proibida. O diclofenaco é o princípio ativo de remédios que estão há décadas no mercado.

A Anvisa divulgou nota na qual afirma que "até o momento, não foram detectadas evidências que levem à necessidade de qualquer mudança imediata com relação à prescrição e uso dos remédios derivados do princípio ativo diclofenaco".

A Novartis, que produz Cataflam e Voltaren, diz que "não há evidência clínico-científica que justifique a interrupção do tratamento com a substância" e afirma que a meta-análise não considera outras causas de elevação do risco cardiovascular, como tabagismo e hipertensão.

Pacientes

Não há consenso entre os médicos sobre se os remédios devem continuar a ser tomados ou não.

Para o presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, Bráulio Luna Filho, o melhor é não tomar o diclofenaco.

"Essa é a melhor informação que nós temos no momento e temos que nos adequar a ela. Na dúvida tenho que proteger meus pacientes".

José Marconi de Souza, cardiologista da Unifesp, afirma que os estudos "não são definitivos, mas devem deixar a classe médica em alerta".

Já o ortopedista André Pedrinelli, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, afirma que os remédios estão há décadas no mercado e o estudo precisa ser avaliado com critérios científicos.

"Precisa esperar um pouco mais para ver se isso tem fundamento ou não".

Os pacientes que fazem uso contínuo de antiinflamatórios em razão de doenças crônicas, devem fazer acompanhamento médico, com exames periódicos para verificar existência de algum problema associado.

A professora Zélia Malta, 63, toma antiinflamatórios regularmente e conta um pouco de sua experiência: "Eu faço uso de antiinflamatórios porque tenho artrite reumatóide há 15 anos, mas não tomo diariamente porque senão acaba com meu estômago e meus rins.

Já tenho gastrite crônica devido à medicação. Tomo remédio para artrite e para osteoporose. Tomo também um protetor do estômago indicado pelo reumatologista por causa dos antiinflamatórios, mas o efeito é limitado.

Além de prejudicar o estômago, prejudica os rins. Tomo antiinflamatório duas vezes por semana. Também faço exercícios e massagens porque tenho muita dor.

A última notícia sobre a ação dos medicamentos fala do coração. Não fiquei preocupada porque vou ao cardiologista.

O importante é ter um acompanhamento médico.


Data: 18/09/2006