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Toxicologia: Primavera eleva casos de intoxicação

Jardins coloridos escondem plantas perigosas, especialmente para crianças, maioria dos que recebem atendimento

Especialmente atraentes na primavera, estação que começa na sexta-feira, o jardim de casas, praças e parques podem ser coloridas e perfumadas zonas de perigo.

Dados do Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológica (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), revelam que de cada dez casos de intoxicação por plantas no Brasil, seis afetam crianças com menos de 10 anos - a maioria absoluta nas cidades e não na zona rural.

O número é um sinal de alerta para os pais e demais responsáveis pelas crianças, que, em geral, desconhecem as propriedades tóxicas de muitas plantas consideradas inofensivas.

Como distinguir todas elas seria impossível, diante das numerosas 265 espécies identificadas até agora no Brasil, aprender a reconhecer os tipos mais freqüentes já pode evitar muita dor de cabeça.

Espécies floridas, como bico-de-papagaio, por exemplo, multiplicam-se em vasinhos, de fácil alcance para os de menor idade.

A planta tem uma seiva leitosa que chama a atenção da meninada e pode provocar estragos na pele e nas mucosas, além de irritação nos olhos e edema nas pálpebras.

Se ingerida, ainda pode causar náuseas, vômitos e diarréia. Na lista, há também saia-branca, pinhão roxo, tinhorão e coroa-de-cristo, freqüentemente usada como cerca-viva.

'Há plantas tóxicas comuns em áreas públicas como praças e até pátios de escolas.

É preciso conscientizar a população, pois a quantidade de crianças que vêm sofrendo acidentes chama a atenção.

São casos evitáveis, mas que têm levado até à morte', observa a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner.

Segundo ela, os dados nacionais mais recentes tabulados pela Fiocruz, de 2003, totalizaram 1.955 casos de intoxicação, sendo que 1.261 ocorreram com crianças de até 10 anos de idade.

Dos 9 óbitos registrados, 5 foram de crianças. 'Impressiona que 87 tenham sido com bebês de menos de 1 ano', alerta Rosany.

Outro dado curioso: ao contrário do que poderia se imaginar, mais de 80% dos casos foram anotados em centros urbanos. E a distribuição dos acidentes é praticamente igual entre meninos e meninas.

Coordenador do Centro de Controle de Intoxicações do Rio, Roberto Belo considera que a maior preocupação com a questão paisagística, associada ao desconhecimento das plantas, explica o grande quantidade de casos.

"Não recebemos todas as notificações, por isso, os números podem ser muito maiores. Nos EUA, há estimativa de que os acidentes encaminhados para sistemas similares aos nossos representam apenas 10% do total".

Comigo-ninguém-pode

Mãe de dois filhos, a dona de casa Ana Cláudia Ferreira Martins, de 36 anos, entrou em desespero no domingo à tarde, quando soube que o filho mais velho, Kelwin, de 4 anos, havia ingerido comigo-ninguém-pode.

Batizada com um nome que faz jus ao seu potencial tóxico, a espécie, facilmente encontrada em casas e jardins públicos, pode matar.

"Meti o dedo na boca dele, forcei o vômito e dei água. Depois procurei imediatamente o médico. Ainda bem que deu para evitar algo pior. Mas ele está se queixando das queimaduras na boca", conta ela, que é moradora de Campo Grande, na zona oeste do Rio.

O caso de Cláudia demonstra que todo cuidado é pouco. Ela tinha conhecimento do potencial nocivo da planta, pois soube do caso de dois irmãos que haviam morrido após ingerir comigo-ninguém-pode durante uma brincadeira.

"Por isso não deixo ter lá em casa. Mas a moça que trabalha para uma amiga minha, com quem estávamos no domingo, havia deixado a planta lá. Eu saí para o banheiro e ele, que estava no balanço, ficou irritado porque o vaso da planta estava roçando no seu pé. Disse que ia quebrá-la e acabou comendo".

Como há muitas outras espécies menos conhecidas, Rosany diz que uma das principais maneiras de prevenir os acidentes é procurar saber mais sobre o assunto, além de orientar as crianças para que evitem colocar as plantas na boca ou brincar com a seiva leitosa que elas liberam, causa de irritações na pele e nos olhos.

No Colégio Pedro II, público, no Humaitá, zona sul no Rio, são as crianças que estão ajudando os pais a identificar os tipos mais perigosos.

Uma parceria da instituição com o Sinitox rendeu edição temática da publicação Brincando e Aprendendo, produzido inteiramente pelos alunos da 5ª série.

A revista, apresentada pelo Capitão Saúde, mostra que, embora bonitas, determinadas plantas devem ser mantidas a distância.


Data: 19/09/2006