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Cosmologia: Físico russo contesta lei sobre buracos negros

Vladimir Belinski apresentou no Brasil o desafio que faz às conclusões do britânico Stephen Hawking; para ele, radiação dos objetos não existe

Há uma brincadeira entre os físicos que diz que se alguém tem uma hipótese que vai contra leis do Universo, pode até estar certo. Agora, se vai contra a segunda lei da Termodinâmica, então é melhor desistir.

Piada à parte, é exatamente isso que o físico russo Vladimir Belinski está propondo.

Ele contesta uma teoria elaborada pelo britânico Stephen Hawking no começo da década de 1970 que diz que buracos negros, objetos formados a partir de estrelas colapsadas, em que a força gravitacional é tão grande que nada, nem mesmo a luz, consegue escapar de dentro deles, também emitem partículas em forma de radiação.

Essa é a chamada radiação Hawking, que Belinski afirma agora não existir. Ele apresentou seus estudos na semana passada durante a 12ª Escola Brasileira de Cosmologia e Gravitação, em Mangaratiba (RJ), e divide opiniões.

De fato, esse efeito nunca foi comprovado experimentalmente, mas é aceito de um modo geral pela comunidade científica - em parte porque os cálculos já foram confirmados diversas vezes; e em parte porque a radiação ajuda a resolver um dilema em torno da tal segunda lei.

A segunda lei da Termodinâmica diz que a entropia (o grau de desordem) de um sistema tende sempre a aumentar.

Antes de Hawking, se supunha que o buraco negro nunca poderia diminuir de tamanho e que tinha entropia nula. Assim o buraco negro não teria temperatura, nem emitiria radiação.

Mas logo se percebeu que isso criava um problema. Ao sugar uma matéria, o buraco negro estaria cometendo o crime de diminuir a entropia do Universo.

Hawking refez os cálculos, pôs na fórmula não apenas a Teoria da Relatividade (que prevê a existência de buracos negros), mas também uma pitada de Mecânica Quântica e concluiu que, sim, o buraco negro emite radiação térmica.

Ou seja, tem temperatura, tem entropia, o sistema todo se encaixa como deveria. E todos ficaram felizes. Mas não para sempre.

Agora, Belinski, que pesquisa o assunto no Centro Internacional de Astrofísica Relativística (Icra), na Itália, afirma haver inconsistências na interpretação do britânico (veja ilustração acima).

Tais supostos erros levaram-no a concluir que a radiação Hawking não existe. 'Ou seja, não há equilíbrio nem termodinâmica do buraco negro', afirmou Belinski em entrevista ao Estado.

Ele se debruça sobre o assunto há pelo menos dez anos. A negação da teoria, no entanto, ainda não vem acompanhada de uma solução.

A favor e contra

Para o físico Mario Novello, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), que promove a escola de cosmologia, esta é a retomada de um problema que já se supunha resolvido.

'A conclusão é revolucionária e dramática'.

Por outro lado, um dos principais estudiosos brasileiros de buracos negros, o físico George Matsas, do Instituto de Física Teórica da Unesp, descarta essa possibilidade.

Para ele há uma questão em jogo ainda pior do que contradizer a termodinâmica.

'As objeções técnicas feitas à radiação são da mesma natureza que Belinski faz a outra teoria que se aplica à física de partículas, o efeito Unruh.

Se um estivesse errado, o outro também estaria, mas esse efeito já foi confirmado diversas vezes nos aceleradores de partícula. E, sem ele, a física de partículas ficaria inconsistente.

É o mesmo que dizer que para A ser igual a B, 2 tem de ser igual a 3. É uma prova pelo absurdo'.


Data: 20/09/2006