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Araripe Geopark é o primeiro do Hemisfério Sul

Projeto do Ceará é aprovado em reunião técnica dos Geoparks em Belfast, na Irlanda

Ontem (20 de setembro), no encontro técnico dos coordenadores da rede mundial de Geoparks, realizado do dia 17 a 21 em Belfast, na Irlanda, foi comunicada a aprovação do projeto de criação do Araripe Geopark, o primeiro do continente americano.

Existem no mundo, hoje, menos de 40 Geoparks, criados em 2001 pela Unesco para a promoção da proteção de territórios especiais de significado geológico e palentológico, numa visão de desenvolvimento sustentável.

A aprovação foi comunicada pelo reitor da Universidade Regional do Cariri (Urca), André Henzog, de Belfast, ao secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará, Hélio Barros, que propôs a criação do Geopark e apoiou a implantação do projeto, desde o início.

"Receber o selo da Unesco para o Araripe Geopark é importante não só para o Ceará mas para o Brasil, uma vez que este será o primeiro das Américas, o primeiro no Hemisfério Sul", disse o secretário.

O Geopark da Bacia do Araripe envolve uma área de 10 mil Km2 sem equivalente no mundo na presença da fauna e da flora em fósseis de 70 a 120 milhões de anos em abundância, diversidade e estado de preservação. Há similares das espécies na África, indício de quando os continentes foram um só.

O Araripe tem mais de um terço de todos os pterossauros descritos no mundo, mais de 20 ordens diferentes de insetos, único registro da interação inseto-planta. No Geopark, com sítios de visitação dotados de painéis educativos vai ser possível acompanhar a evolução das rochas, minerais e da vida no continente.

Credencia o Ceará o fato de que há 20 anos a Urca trabalha esta riqueza do passado com a instalação do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, com acervo de mais de 5 mil peças, avaliado em U$ 20 milhões.

Por isso, as instalações estão sendo ampliadas, com novo projeto arquitetônico. A obra de ampliação já foi licitada pelo governo do Estado, com a destinação de R$ 936,38 pela Secretaria da Ciência e Tecnologia.

O projeto aprovado inclui a instalação de pontos de visitação em Santana, Nova Olinda, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Milagres e Abaiara com a potencialização de corredores turísticos e com a atração do turismo científico internacional. Placas didáticas foram fixadas em mais 60 localidades na região Sul do Estado.

A história geológica da terra está documentada na região, com maior visibilidade no Pontal de Santana, na cachoeira de Missão Velha e nas aflorações de granito no horto, em Juazeiro do Norte e floresta de fósseis em Abaiara (Barbalha).

A Urca já recebeu uma área de 18 hectares onde funcionava uma mina de calcáreo laminado em Nova Olinda.

Out
ro ponto que se destaca no conjunto é a Floresta Nacional do Araripe, de 60 anos, a primeira unidade de proteção no País, com 500 Km2, uma ilha de biodiversidade no semi-árido nordestino.

Atende ao interesse da Unesco em promover a proteção ao meio ambiente. Uma lei estadual já declarou Santana capital cearense da paleontologia. "O Geopark vai contribuir para gerar uma nova consciência", afirma André Herzog.

Em junho, missão da Unesco auditou projeto do Araripe Geopark

Na semana de 19 a 23 de junho, pela primeira vez no Continente americano, uma missão da Unesco veio auditar um projeto de Geopark, o Araripe Geopark, em municípios do Cariri.

A equipe foi formada pela Dra. Margarete Patzak, diretora da Divisão de Ciências da Terra da Unesco, pela Dra. Jutta Weber, diretora do Geopark Bergstrasse Odenwald, da Alemanha e pelo Prof. Dr. Gero Hillmer, da Universidade de Hamburgo, Alemanha, consultor do projeto cearense.

A missão visitou o Geopark Araripe, que é formado por uma rede de nove unidades de conservação no Cariri (Geotopes), de interesses definidos por sua relevância geológica e paleontológica.

"Foi a primeira vez, no Continente americano, que uma equipe da Unesco visita um projeto de Geopark", diz o reitor da Urca, André Herzog.

O fato, em si, para ele, foi emblemático do estágio de evolução do projeto. Os Geotopes são considerados imprescindíveis à compreensão da origem, evolução e atual estrutura da bacia sedimentar do Araripe. São os locais mais representativos de seus estratos geológicos e de suas formações fossilíferas.

Margarete Patzak, Jutta Weber e Gero Hillmer percorreram todos os Geotopes do Araripe Geopark. O Geotope Arajara, área de floresta de mata úmida, nascentes e estrutura para recepção de turistas, estudantes e pesquisadores, fica no Parque Riacho do Meio, com altitude de 960 m acima de Barbalha.

O Geotope Santana, no Sítio Cana Brava, próximo da cidade de Santana do Cariri, é um dos principais componentes do Geopark. Está instalado numa área da Urca de 18 hectares rica em concreções fossilíferas do Cretáceo.

É vinculado ao museu de Paleontologia da Urca, em Santana do Cariri, com sua coleção de mais de 7 mil fósseis do Cretáceo, que recebe mais de 20 mil visitantes por ano.

O Geotope Nova Olinda situa-se a 3 Km da cidade do mesmo nome, numa mina de Pedra Cariri, calcáreo laminado, que guarda fósseis de invertebrados, vertebrados e plantas. Esse extrato é considerado um dos mais abundantes do mundo.

O Geotope Missão Velha é uma floresta fóssil com afloramento de troncos fossilizados a 6 Km desta cidade, próximo a Abaiara.

O Geotope Exu, em Santana do Cariri, correspondente à formação do topo da Chapada do Araripe, tem como marco o Pontal da Santa Cruz, numa altitude de 750 m no alto da Serra do Araripe.

O Geotope Ipubi fica na área de uma mina desativada de gipsita em Santana do Cariri e corresponde ao extrato formado por este mineral, testemunha da presença marinha na região.

Mais próximo da zona urbana, objeto da devoção dos peregrinos religiosos, o Geotope Granito, em Juazeiro do Norte, localiza-se na Colina do Horto, onde está fixada a estátua do Padre Cícero. Esta localidade apresenta e explica a formação do embasamento cristalino que reveste a terra.

O Geotope Devoniano, o Canyon do rio Batateira, a 4 Km de Missão Velha, é um conjunto de rochas de grandes dimensões, cachoeiras e vegetação de alto porte, correspondente ao períodos geológicos silurio-devoniano, muito mais antigos que as formações fossilíferas.

Todos os nove Geotopes representam situações de grande significado científico para a compreensão da evolução da terra e da vida, que precisam sem preservados por serem únicos no planeta com as suas características.

A instalação do Geopark Araripe foi proposta pelo Secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Hélio Barros, e está sendo coordenada pela Universidade Regional do Cariri (Urca), com o suporte do Governo do Estado. Conta ainda com o apoio do governo da Alemanha, via Serviço Acadêmico de Intercâmbio Alemão (DAAD) e fundos do Ministério Alemão para a Cooperação e Desenvolvimento BMZ.

O projeto recebe apoio dos seguintes órgãos federais: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) e Ibama, além da Fundação Casa Grande de Nova Olinda, ONG´s regionais, prefeituras dos Municípios que contém os Geotopes e da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

O projeto do Geopark prevê para cada Geotope a criação de parques da natureza, contendo instalações de infra-estrutura receptiva com áreas de visitação científica orientadas e áreas de lazer.

Em alguns Geotopes serão implantados centros de informação e educação ambiental. A implantação envolve uma articulação do Governo do Estado, que tem investido na concepção e infra-estrutura, procurando envolver a parceria das prefeituras e Câmaras Municipais da Região e Governo Federal.

Na relação, é dada ênfase à importância do Geopark no desenvolvimento econômico regional sustentável, por meio da promoção da educação, da ciência e do turismo científico.

Unesco concita países a preservarem sítios

O conceito de geoparque remonta a uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Desde 1999, a Unesco vem concitando os estados-membros a que, a partir de determinados critérios, investiguem a existência de monumentos naturais de importância geológico-paleontológica que se prestam à criação de geoparques nacionais.

Após prolongada colaboração com a Universidade Regional do Cariri (URCA) e com o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), em Bonn, no final de 2005 foi apresentado à Unesco, em Paris, o requerimento para a criação do Araripe Geopark no Cariri, Sul do Ceará.

O Geopark será formado por uma rede de nove parques situados em sítios relevantes de fundamental importância para compreender parte da história da formação do planeta Terra, situados em Santana do Cariri, Nova Olinda, Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Abaiara e Milagres.

Até este momento foram criados 25 geoparques na Europa e 12 na China, de conformidade com os critérios elaborados pela Unesco durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-1992).

Neste ano de 2006, portanto, o Araripe Geopark apresenta-se como o primeiro parque de proteção ambiental desse tipo na América Latina.

Critérios da Unesco para geoparques

- O território de um geoparque deve ser uma paisagem natural unificada, com a identificação de geótopos geológico-paleontológicos únicos. Isto significa que tanto as rochas quanto os fósseis precisam ser de grande valor científico.

- O geoparque deve dar uma notável contribuição para o desenvolvimento sócio-econômico da região como um todo (geoturismo, guias, artesanato, etc.).

- O geoparque deve ser de particular importância não apenas geológico-paleontológica, mas deverá apresentar também monumentos ecológicos, arqueológicos e histórico-culturais relevantes.

- A Unesco exige que o geoparque contribua antes de tudo para a formação dos alunos, estudantes e adultos nas geociências, assim como para a educação ambiental.

- O geoparque deve contribuir para a proteção e promoção do meio ambiente atual, bem como da herança geológico-palentológica nele existente; isto quer dizer: no geoparque interligam-se a história da Terra, a natureza, o homem e a cultura.

Todos esses critérios da Unesco se aplicaram de forma natural e eminente à realidade ambiental do Araripe Geopark.

Por meio de rochas e fósseis sem paralelo em outros lugares se transmite aqui uma fascinante história da Terra, que remonta a um período entre 150 e 70 milhões de anos atrás.

Fósseis de Santana

Os fósseis mais conhecidos mundialmente, únicos quanto ao estado de conservação, são os de Santana, presentes hoje em dia em todas as coleções científicas do mundo.

Levam esse nome por causa da localidade de Santana do Cariri, na Chapada do Araripe/Ceará.

O Museu de Paleontologia, que faz parte da URCA, localizado desde 1986 em Santana do Cariri, atualmente está sendo reformado e modernizado, com custos elevados.

Os fósseis de Santana permitem reconstruir uma das fases mais importantes da história da Terra: a separação do continente primordial de Gondwana, ocorrida há cerca de 120 milhões de anos, quando surgiu, entre outras coisas, o Oceano Atlântico.

O atestado de nascimento do Atlântico é documentado de maneira convincente pelos fósseis de Santana.

A deriva dos dois continentes, África e América do Sul, está comprovada, entre outras coisas, pelo peixe de água doce Dastilbe, do qual ocorrem várias espécies nos depósitos de igual idade tanto no Gabão, África, quanto no Ceará brasileiro.

Acontecimentos importantes da evolução, como o desenvolvimento das primeiras plantas fanerogâmicas e dos insetos polinizadores, como abelhas e borboletas, com elas causalmente associados, estão documentados nas placas calcáreas da Formação de Crato.

Em suas rochas, localiza-se o maior sítio de insetos fósseis do mundo. Também os sáurios voadores, os pterossauros, já haviam desenvolvido nesse período de Santana uma estrutura de vôo cujos complicados detalhes construtivos o homem teve que reinventar para os planadores.

Na Formação de Santana foi encontrado ainda o esqueleto completo de um sáurio carnívoro com quase dois metros de comprimento que, por causa do sítio arqueológico de sua descoberta, recebeu o nome de Santanaraptor placidor.

Janelas abertas para a história da Terra

As rochas do Araripe Geopark também comprovam de forma convincente a ocorrência, já em épocas remotas da história da Terra, de diversas mudanças climáticas, com grandes modificações ambientais.

Regiões terrestres, por exemplo, foram recobertas com depósitos de lagos de água doce e de lagunas com sedimentos marítimos. As condições climáticas tropicais e subtropicais alternaram-se com a formação de desertos.

De maneira geral, o Araripe Geopark é uma janela única que nos possibilita o conhecimento de uma fase extremamente interessante da história da Terra e, juntamente com a biosfera como um todo, um excepcional parque natural internacional.


Data: 21/09/2006