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Botânica: Sementes de 200 anos germinam

Elas foram recolhidas em 1803 no Cabo da Boa Esperança e apreendidas pela Marinha britânica

Um punhado de sementes de 200 anos encontrado dentro de um caderno nos Arquivos Nacionais de Londres foi cultivado por botânicos dos Jardins de Kew, no Reino Unido.

Contrariando todas as expectativas, os especialistas ressuscitaram três espécies de plantas: um arbusto chamado Liparia villosa, uma espantosa flor parecendo uma almofada de alfinetes chamada Leucospermum e um tipo de acácia.

A sobrevivência das sementes é ainda mais notável pelas condições que enfrentaram desde que foram colhidas, durante as guerras napoleônicas. Sua perenidade aumenta a esperança de que amostras de espécies, entre elas as ameaçadas de extinção, possam ser conservadas por períodos longos.

O caderno pertencia a Jan Teerlink, um mercador holandês que recolheu as sementes no Cabo da Boa Esperança em 1803. Na volta, com uma carga de chá e seda, seu navio prussiano, Henriette, foi apreendido pela Marinha britânica, assim como todos seus documentos, inclusive o caderno.

Algum tempo depois, o caderno foi entregue à Torre de Londres e, mais tarde, repassado aos Arquivos Nacionais, onde permaneceu intocado até recentemente, quando os curadores o notaram enquanto mudavam a catalogação.

O caderno foi examinado por Roelof van Gelder, um pesquisador convidado da Biblioteca Real Escocesa, que descobriu 40 minúsculos pacotes enfiados no seu interior com 32 espécies de sementes.

A maioria estava rotulada com nomes latinos, mas outras pareciam inidentificáveis na época e traziam etiquetas como 'mimosa desconhecida', 'sementes de uma árvore com espinhos retorcidos' e 'sementes dos melões silvestres comidos pelos selvagens ao longo do Rio Orange'.

Para reviver as sementes, algumas de cada variedade foram entregues a ecólogos do Banco de Sementes do Milênio, projeto de US$ 145 milhões que visa a preservar sementes de 10% de todas as plantas que florescem no mundo.

'Não achava que pudesse haver a mínima chance de sucesso. Duzentos anos é um tempo longo demais para sementes sobreviverem e essas foram mantidas em condições muito abaixo das ideais', disse o ecólogo Matt Daws.

'Mas era também uma oportunidade boa demais para deixar passar'.

Amostras de duas espécies foram perdidas com o tempo. Daws expôs as demais à fumaça, uma vez que muitas sementes da região de origem germinam em terrenos de queimadas.

Em seguida, ele as transferiu para um meio gelatinoso. A equipe tem agora dois arbustos de 10 centímetros de altura e a acácia quase chega à cintura. Nenhuma das plantas foi extinta nestes 200 anos.

Para os cientistas de Kew, o projeto tem um interesse mais que histórico. 'Segundo modelos de sobrevivência de sementes, mesmo as sementes de grãos mais resistentes morreram depois de tanto tempo em tais condições', disse Daws.

'Se uma semente pode sobreviver todo esse tempo em condições precárias, esta é uma boa notícia para as armazenadas pelo Banco de Sementes do Milênio em condições ideais.'


Data: 21/09/2006