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Estudo mostra que exames de alta tecnologia em medicina podem ser utilizados em regiões carentes do país

Agentes comunitários de saúde do Ceará, que já realizam um trabalho de sucesso no estado, participaram da pesquisa que envolveu mais de 1.500 mulheres

Estudo realizado com mulheres carentes do Ceará abre uma nova perspectiva na área médica comprovando a possibilidade de levar alta tecnologia em exames diagnósticos, mesmo para as regiões mais distantes do país.

Num esforço comum dos pesquisadores e órgãos públicos, um grupo de 1.500 mulheres da zona rural participou de um estudo inédito realizado pelos médicos Francisco Holanda Junior e Tânia Maria Cruz Werton Veras.

Os ginecologistas tiveram como foco do estudo a utilização do moderno exame de captura híbrida no rastreamento do DNA do vírus HPV.

O trabalho, inédito no Ceará, tinha como desafio mostrar a importância da prevenção quando o assunto é câncer de colo de útero, o segundo tipo de câncer mais freqüente no estado e que, no Brasil, atinge, anualmente, mais de 19 mil mulheres, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer).

Mesmo sendo um teste de alta tecnologia, os médicos o utilizaram como ferramenta principal do estudo, por ser o único aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador do mercado farmacêutico dos Estados Unidos e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) - para detecção do HPV, principal causador do câncer de colo do útero, através da biologia molecular.

As pesquisas seguiram várias abordagens com o objetivo de comparar a performance do teste em duas situações.

A primeira, com a autocoleta realizada pelas mulheres pesquisadas, em suas casas, e sob a orientação dos agentes de saúde e, a segunda, a coleta do material por um médico ginecologista em consultório e nas condições ideais.

O envolvimento da rede de Agentes Comunitários do Ceará, que realizam um trabalho de sucesso nas comunidades carentes, foi fundamental por eles terem acesso a estas mulheres e colaborarem de forma decisiva no estudo, além de mostrar que - apesar da alta tecnologia - o exame é simples e eficaz.

"Sabemos das dificuldades de acesso da população carente a testes de rastreamento de câncer de colo do útero e tínhamos a convicção, que esta equipe, pela liderança que assumem nas suas áreas de abrangência, tinha potencial de levar até aquelas mulheres esta avançada tecnologia" comentam os pesquisadores.

Todos os agentes foram treinados para explicarem à população desde o que é o HPV e os problemas que ele causa, até a importância do exame de rastreamento, no qual as mulheres seriam submetidas.

Os resultados da pesquisa mostraram que não houve alteração nos resultados das coletas realizadas pelas próprias mulheres e das feitas por especialistas.

O que sinaliza que há meios para se realizar a prevenção do câncer de colo uterino, através da captura híbrida, mesmo em regiões distantes e com poucos recursos, como é o caso da zona rural cearense, isolada e com pouco acesso a locais adequados para a realização de exames.

Outra conclusão foi que a captura híbrida mudaria o método de prevenção de maneira global. "Com o exame, é possível um laudo seguro das mulheres que realmente correm o risco de ter câncer de colo uterino e, a partir daí, é possível acompanhar e prescrever cuidados especiais", observam os pesquisadores.

Segundo eles, isso é possível porque, a captura híbrida é o único teste capaz de detectar a presença do vírus HPV, antes de sua manifestação, sendo possível dizer, com 95% de certeza, quem possui o vírus, afirmam Holanda e Tania.

"No caso do teste Papanicolaou, por exemplo, o exame só é capaz de detectar o vírus depois que ele já causou uma lesão e não antes deste estágio, dificultando a prevenção. No Ceará, de cada 100 mulheres da zona rural com lesões no colo do útero de baixo ou alto grau, o Papanicolaou só identifica 18%. Em todo o estado esse número aumenta para 28%", alerta Adauto Castello, infectologista e um dos idealizadores do estudo.


Data: 22/09/2006