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Falta de estímulo leva menina a pior resultado, diz neurocientista

Ela suspeita que o pior desempenho médio das meninas tenha a ver com a educação escolar

Com base na experiência das Olimpíadas Brasileiras de Matemática, a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), Suely Druck, acha que a diferença entre o desempenho de meninos e o das meninas "é quantitativa, não qualitativa".

Suely Druck diz que o resultado das olimpíadas -realizadas com 10,5 milhões de alunos- também detecta rendimento médio melhor dos meninos, mas que, ao premiar os melhores, há casos tanto de alunos como de alunas excepcionais.

Ela suspeita que o pior desempenho médio das meninas tenha a ver com a educação escolar.

Suely Druck evita entrar na discussão sobre se fatores biológicos influenciam o resultado, mas dá pista de sua opinião: "Nos EUA, quando inventaram uma boneca Barbie que falava, uma das primeiras frases que ela dizia era "eu odeio matemática". "Isso é muito emblemático".

Neurocientistas também reforçam a tese de que é o fator cultural que mais interfere no desempenho.

"Há 20 anos, pesquisas de desenvolvimento infantil mostram que as meninas têm facilidade com linguagem, e os meninos, com atividades motoras. Mas devemos olhar cada aluno particularmente e reconhecer seus potenciais", diz o neurocientista e médico da Escola Paulista de Medicina Cláudio Guimarães dos Santos.

Gilberto Xavier, professor de neurofisiologia da USP, concorda.

"O sistema nervoso se desenvolve a partir da cultura do ambiente, e provavelmente isso resulta da diferença de tratamento entre meninos e meninas. Estimula-se um padrão de comportamento que deixa a menina mais retraída, e o menino, menos. Diferenças culturais determinam o desempenho em tarefas como o aprendizado de matemática'".

Druck, por exemplo, conta que nunca recebeu incentivo para ser matemática, mas que desde criança gostava muito da disciplina.

"Me lembro de meu falecido sogro que, há 30 anos, tinha vergonha de contar aos amigos que eu fazia matemática e me perguntava por que eu não estudava francês. Mas era um caso muito específico."


Data: 25/09/2006