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Rivalidades eletivas, artigo de Marcelo Leite

A melhor Universidade brasileira figura no segundo lugar do ranking ibero-americano

Marcelo Leite - Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp



O mecanismo faz sentido, à luz da psicologia, da economia e da ecologia: quando a competição é forte demais e o fracasso, certo, a prudência manda mudar de turma, de ramo ou de nicho.

Deve valer também para a cientometria, neodisciplina das estatísticas sobre produção científica. Medindo-se somente com seus pares nos EUA, por exemplo, os pesquisadores brasileiros arriscam-se a um abismo de depressão.

Não é nada fácil, claro, ver-se condenado a comemorar avanços de décimos e centésimos de ponto percentual, como passar de 1,58% (2003) para 1,73% (2004) do total de artigos científicos publicados em periódicos internacionais.

Quando olham para o número de patentes internacionais obtidas (192, em 2004), então, os tecnocratas da ciência brasileira entram em surto - mesmo que a comparação seja com a outrora subdesenvolvida Coréia do Sul (4.590).

Uma alternativa que faz sentido surge da comparação com países ibero-americanos. Levantamento dessa espécie de segunda divisão foi empreendido pelo consórcio de universidades espanholas SCImago e noticiado pela "Folha de SP" de quarta-feira.

Deu USP na cabeça - melhor dizendo, vice-cabeça. A melhor Universidade brasileira figura no segundo lugar do ranking ibero-americano, com 38.539 artigos emplacados, entre 1990 e 2004, nos periódicos eleitos para estrelar a base de dados cientométricos Thomson-ISI. Só perde para o Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha (CSIC), com a palindrômica marca de 59.595 "papers".

Entre as dez primeiras colocadas, três são instituições nacionais. Além da USP, Unicamp (7º lugar) e UFRJ (décimo). Cinco são espanholas. Uma, mexicana (Universidade Nacional Autônoma do México, em 4º lugar), e outra, argentina (Universidade de Buenos Aires, em 6º).

Só mais dois países, Chile e Portugal, aparecem na lista das 30 maiores.

Os dados podem ser consultados e desdobrados por área no endereço
http://www.atlasofscience.net/atlas/scriptat/rankingf_sp.asp.

Tomados em seu conjunto, os seis países formam um pequeno exército de Brancaleone. Em 15 anos, suas 30 instituições mais destacadas produziram, juntas, 420 mil artigos científicos de classe internacional. Uma média de 28 mil por ano.

Sinal de que as coisas progridem razoavelmente é que em 2004 já bastavam os esforços latino-americanos para atingir a marca de 28 mil. Cerca de metade -ou mais de 13 mil artigos- saía do Brasil. Mas a Espanha respondia por quase o dobro disso, 25 mil "papers".

E, mais deprimente, os EUA desovavam 256 mil
(confira em http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/9228.html).

Seguindo a voz da prudência, é bom mudar de assunto. Olhando só para o Brasil, onde já não faltam motivos para acabrunhar-se: engana-se quem concluir do alarido na imprensa que a biologia molecular desponta como grande estrela.

Entre as várias áreas compiladas separadamente no ranking SCImago, só em duas uma instituição brasileira (a USP, de novo) galga a primeira posição: medicina e matemática.

Claro está que esse gênero de ranking comporta distorções, por só compilar dados da Thomson-ISI. Eles são notoriamente refratários à pesquisa produzida fora dos centros estadunidenses, europeus e asiáticos (Japão, com 69 mil artigos em 2004, e China, com 46 mil).

Mas é nas duas ou três dezenas de milhares de periódicos escrutinados pela empresa que todos os pesquisadores estão de olho. Inclusive os brasileiros.


Data: 25/09/2006