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Gene europeu é o mais forte nos nordestinos

Pesquisa realizada nas nove capitais do Nordeste revela que até 4% da população mostram resistência ao HIV, graças à presença do gene CCR5 defeituoso, ausente entre os asiáticos e africanos

Gene de resistência à infecção pelo HIV-1 está presente em 3% a 4% da população nordestina, revela pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O CCR5 defeituoso, ausente em populações asiáticas e africanas, é uma herança européia, segundo o coordenador do estudo, o geneticista Luis Mauricio Silva.

O levantamento foi realizado em nove capitais: Recife, Natal, Maceió, Aracaju, Salvador, São Luís, Teresina, Fortaleza e João Pessoa. A equipe do Departamento de Genética da UFPE analisou cerca de 2.500 amostras de sangue entre 2003 e 2005.

O gene CCR5 se encontra no cromossomo 3, um dos 23 presentes, aos pares, no DNA humano. Quando defeituoso, apresenta uma perda de 32 pares de base.

É justamente esse defeito que o deixa resistente ao vírus causador da aids. É que a ausência desse trecho torna o gene um receptor não funcional, ou seja, ele impede que cepas do HIV-1 entrem nas células do organismo humano.

A análise do CCR5 foi realizada no Laboratório de Genética Humana da UFPE com uma técnica chamada PCR, sigla em inglês para reação em cadeia da polimerase.

O método amplifica o pedaço em que o gene apresenta a deleção, permitindo verificar o defeito. A freqüência média desse alelo do CCR5 é de 10% na população européia, o que representa cerca de 700 milhões de pessoas menos susceptíveis à infecção pelo HIV-1.

Para Luis Maurício, a origem do gene CCR5 defeituoso passou da Europa para o Brasil por meio dos colonizadores portugueses.

Ele informa que a presença do alelo mutante é ainda mais forte no norte europeu, chegando a 14% nos países escandinavos, enquanto na Península Ibérica o percentual é mais baixo - aproximadamente 6%.

"Por isso costumo dizer que os viquingues invadiram o Nordeste brasileiro", brinca o pesquisador. Segundo ele, o CCR5 defeituoso acompanha os seres humanos ao longo da história evolutiva da espécie, nos últimos 200 mil anos.

Em Alagoas, um dos Estados amostrados, a pesquisa resultou numa dissertação de mestrado em genética. No trabalho, o autor Rubens Oliveira analisou amostras de 300 pessoas, 100 delas portadoras do HIV.

A média foi de 3% de genes CCR5 defeituosos, isso é, com o alelo mutante. Os soropositivos estudados em Alagoas desenvolveram os sintomas da aids e estavam em tratamento com terapias antivirais havia sete anos.

No Brasil, levantamentos semelhantes foram feitos no Sudeste, onde o percentual de resistência foi de 3,5%.

Em Pernambuco, o percentual foi de 4,10%. Para o autor da dissertação, a freqüência do alelo mutante é semelhante em Pernambuco e Alagoas. "Isso se dá, provavelmente, pelo fluxo de indivíduos entre os dois Estados vizinhos."

A presença do CCR5 confirma a tese de Luiz Maurício de que, na população nordestina, a origem genética européia é mais forte que a indígena ou africana.

Para o professor do Departamento de Genética da UFPE Valdir Balbino, isso comprova a missão colonizadora dos portugueses.

"Os europeus que vieram para o Brasil geraram filhos com as índias e as escravas africanas, contribuindo para o pool gênico do Nordeste", diz.

Balbino é o coordenador de um projeto que pretende investigar, entre outros aspectos, a mutação do alelo do CCR5 na população de Triunfo, a 402 quilômetros do Recife, considerada isolada geneticamente.


Data: 16/10/2006