Grupo nos EUA produz o primeiro objeto "invisível"
Disco do tamanho de uma pizza desvia raios de microondas, escapando à detecção. Aparato não consegue desviar luz visível e por enquanto só funciona em duas dimensões, mas grupo já antevê aplicação militar
Um grupo de pesquisadores americanos anunciou ontem ter conseguido criar um objeto "invisível". O uso das aspas cabe bem aqui já que, na verdade, quem olha para o pequeno disco aí à direita pode vê-lo sem problemas. A invisibilidade só aconteceria se você enxergasse em microondas em vez de luz comum e vivesse em um Universo de duas dimensões.
Pode parecer uma invenção um tanto limitada para crianças familiarizadas com a capa invisível do bruxo Harry Potter, mas os cientistas que a criaram acreditam que podem aprimorá-la a ponto de torná-la útil em aplicações como sistemas para driblar radares.
O invento é um disco do tamanho de uma pizza feito com anéis de cobre e fios elétricos em uma armação de folhas de fibra de vidro. Tudo isso é estruturado de maneira a interagir com feixes de microondas e desviá-los antes que eles batam no objeto.
Ao impedir que a radiação seja refletida pelo aparato, os cientistas, na prática, o tornam "transparente".
"O movimento das ondas passa a ser similar ao da água de um rio fluindo ao redor de uma pedra arredondada", diz o físico David Schurig, da Universidade Duke, autor principal do estudo que descreve um experimento com o dispositivo, no site da revista "Science".
Schurig e seus colegas, liderados pelo físico David Smith, já conseguiram "esconder" um objeto -um tubo de cobre- dentro da cobertura antimicroondas.
"A cobertura e o objeto combinados começaram a se assemelhar ao espaço livre", escreveram os autores.
A idéia de criar o dispositivo invisível nasceu de um estudo teórico do físico britânico John Pendry, que concebeu a idéia de como deveria ser o tipo de material usado em um objeto capaz de desviar a radiação de maneira controlada.
Desde o início o trabalho dos pesquisadores tem sido patrocinado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que tem interesse na tecnologia para aprimorar aviões do tipo "sorrateiro", invisíveis a radares.
Uma das principais limitações da tecnologia criada por Schurig e Pendry para chegar à invisibilidade total é que ela ainda não é capaz de trabalhar com comprimentos de onda variáveis, como os da luz, que correspondem às cores que vemos.
Outro problema é que o experimento usou radiação polarizada, que só vibra em uma direção. Fontes comuns de radiação em geral emitem raios de todas as orientações.
Ainda assim, já é possível vislumbrar alguns aprimoramentos. Schurig diz que pretende criar em breve um objeto que seja invisível num ambiente tridimensional, e que corrija as sombras -pequenas imperfeições que ainda existem no primeiro protótipo.
Apesar do otimismo do pesquisador, porém, ainda não dá para dizer se essa tecnologia poderá se desenvol ao ponto de lidar com a luz visível.
"Não está claro se vai ser possível conseguir a invisibilidade na qual todos pensam, como a capa do Harry Potter ou o aparelho de invisibilidade de "Jornada nas Estrelas", diz Smith. Data: 20/10/2006
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