topo_cabecalho
UFCG se prepara para inclusão de surdos

Universidade já desenvolve programa há 23 anos

Cumprir o Decreto Federal que regulamenta a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é o grande desafio das universidades brasileiras para o próximo ano. O Decreto torna obrigatória, a partir de 23 de dezembro próximo, a Libras como disciplina curricular na formação de professores para o magistério em nível médio e superior; e determina a contratação de intérpretes da língua dos sinais para que os estudantes surdos possam acompanhar as aulas em todos os colégios e universidades públicas e privadas do país.
 
As novas obrigações são um grande avanço no sistema educacional brasileiro. O país tem, de acordo com o Censo 2000, cerca de 5,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva - 3% da população. O número inclui as pessoas que nasceram surdas e as que perderam a audição ao longo da vida. Os índices da educação dão uma dimensão da importância da inclusão da Libras nas salas de aula. Segundo o Ministério da Educação (MEC), existem 66.261 alunos surdos da educação infantil ao ensino médio - 0,12% do total. No ensino superior, só 974 - 0,02%. A diferença nos porcentuais mostra a dificuldade para chegar à universidade.

O reitor da UFCG, Thompson Mariz, disse que uma medida dessa natureza, antes de ser posta em prática, passa por discussões na Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), onde são analisadas todas as conseqüências e procuradas metodologias para uma aplicação uniforme nas Ifes; o que, segundo ele, deve acontecer nas próximas reuniões ordinárias da entidade em novembro e dezembro. “As conseqüências também merecem discussões junto à Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC), em especial, a questão da alocação de vagas para as contratações e recursos de capital para aquisição de equipamentos, se necessário”, completou

Apesar de toda uma adequação necessária para a sua implantação, a UFCG avança nos projetos voltados à inclusão de surdos em seu quadro de alunos. É o que pensam as professoras Eleny Gianini e Niédja Lima, da Unidade Acadêmica de Educação, que trabalham este tema há muito tempo. Elas informam que a disciplina Libras já vem sendo ministrada no curso de Pedagogia da UFCG desde 2001.

Também são oferecidos, como atividades de extensão, cursos de formação de instrutores de Libras. O curso é composto pelas disciplinas de Libras, Língua Portuguesa, Didática e Prática de Ensino, com um total de 520 horas/aula, distribuídas durante os anos de 2004, 2005 e 2006. Ele faz parte do Programa Fazendo e Aprendendo, da Sesu, e formou dez professores surdos de Libras. Este ano, através do mesmo programa, foi oferecido o curso de extensão de Formação de intérpretes de Libras, com a participação de 18 alunos de várias cidades da Paraíba.

Este trabalho reflete um comprometimento da UFCG com a prática pedagógica para surdos iniciada em 1983, com a criação da Escola de Audiocomunicação de Campina Grande (EDAC), atualmente vinculada ao governo estadual. “A EDAC é um campo de estágio, extensão e pesquisa do curso de Pedagogia da UFCG, especialmente da Habilitação em Educação de Deficientes da Audiocomunicação”, informa a professora Eleny. “Este intercâmbio permanente permite um enriquecimento mútuo, sendo, na verdade, impossível traçar as histórias da Escola e da Habilitação de forma independente. Muitas das conquistas no campo educacional dos surdos, em Campina Grande, são frutos de estudos, reflexões e lutas realizadas por estas duas instituições”, conclui.

Língua Brasileira

Na Libras, cada palavra é “dita” por meio de um sinal próprio com as mãos. “Obrigado”, por exemplo, lembra uma continência militar. “Deus” é representado pelo dedo indicador apontado para cima. As palavras só são ditas letra por letra quando não têm um sinal específico, como os nomes de pessoas. As expressões faciais são importantes - diferenciam, por exemplo, “gostar” de “amar”. Cada país tem sua própria língua de sinais. A do Brasil é diferente da de Portugal. Por isso, é considerado bilíngüe quem sabe português e Libras.

A Libras também tem uma estrutura gramatical e sintática própria. A frase “ela vai para casa”, por exemplo, é formada pelos sinais “casa” e “ir”. Os verbos não são conjugados, como se estivessem no infinitivo. É preciso apontar para a pessoal sobre quem se está falando.

Implantação

Segundo a Andifes (associação que reúne os reitores das federais), as universidades já solicitaram ao MEC autorizações para contratar tradutores. Ainda não se sabe o tamanho da demanda. A UnB (Universidade de Brasília), por exemplo, tem sete deficientes auditivos em cursos como comunicação social, direito e engenharia mecânica.

O MEC aplicará em janeiro o primeiro exame oficial de proficiência em Libras do País. Esse certificado poderá ser um dos requisitos exigidos pelos colégios e pelas universidades federais para contratar os intérpretes.

No último dia 27, teve início o primeiro curso superior voltado para a formação de professores da língua de sinais. Será como os demais cursos de letras, com a diferença de que, em vez de se habilitar em português ou inglês, o estudante se especializará em Libras. O curso é coordenado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ministrado simultaneamente, pela internet, em outras oito faculdades públicas. “Os surdos estão finalmente tendo o direito da educação”, diz Marlene Gotti, assessora técnica da Secretaria de Educação Especial do MEC.


Data: 31/10/2006