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Células-tronco e a fertilidade feminina, artigo de Fernando Reinach

A redução da fertilidade se deve ao fato de as mulheres nascerem com um número fixo e limitado de óvulos imaturos que não são repostos ao longo da vida.

Fernando Reinach - Biólogo, professor titular do Instituto de Química da USP, diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios e foi presidente da CTNBio em 1999.



Muitas mulheres têm retardado a idade em que decidem ter filhos. Como a fertilidade diminui a partir dos 35 anos, e aos 45 poucas mulheres são férteis, muitas vezes elas descobrem que já não são férteis quando decidem engravidar.

A redução da fertilidade se deve ao fato de as mulheres nascerem com um número fixo e limitado de óvulos imaturos que não são repostos ao longo da vida.

Recentemente foi proposto que células-tronco presentes no sangue poderiam penetrar nos ovários e se transformar em óvulos. Se isso fosse verdade, seria possível utilizar tais células-tronco para prolongar a fertilidade feminina.

Mas um experimento recente sugere que a teoria provavelmente não é verdadeira.

Os cientistas utilizaram um camundongo fêmea transgênico no qual foi inserido um gene extraído de uma água-viva chamado "gene da proteína fluorescente verde", que produz uma proteína fluorescente.

Por esse motivo, todas as células desses camundongos brilham no escuro emitindo uma luz verde (parece o brilho de um interruptor no escuro) da mesma maneira que as águas-vivas de onde o gene foi retirado.

A cor permite identificar facilmente uma célula proveniente dos camundongos mesmo no meio de milhares de células normais.

Por meio de uma cirurgia, os cientistas conectaram fêmeas "verdes" a fêmeas normais e assim obtiveram pares ligadas uma à outra como gêmeas siamesas.

Nessa operação os cientistas interligaram o sistema circulatório das duas provocando a mistura de seu sangue.

Se examinarmos o sangue que circula nas fêmeas vamos encontrar uma mistura de células verdes e células normais. A cirurgia faz com que as células-tronco de cada uma delas entre em contato com o ovário da outra.

Assim, se uma célula-tronco originária do sangue de uma fêmea verde penetrar no ovário da normal e vier a produzir óvulos, eles podem ser identificados por sua cor.

Após esperar meses para que as células possam ter a oportunidade de invadir os ovários, os cientistas examinam os óvulos produzidos pelas fêmeas normais à procura de óvulos verdes.

Caso tivessem incorporado as células-tronco de suas parceiras e as células tivessem originado óvulos, os óvulos deveriam ser verdes. Quando os resultados foram analisados, os cientistas descobriram que em nenhum caso as fêmeas normais produziram óvulos verdes.

Ficou demonstrado que, ao menos em camundongos, a teoria de que células-tronco invadem os ovários e podem gerar novos óvulos caiu por terra.

Parece que todos os óvulos produzidos pelas fêmeas já estavam nos seus ovários e que nenhum óvulo novo foi produzido pelas células-tronco que invadiram os ovários.

Quanto às mulheres, elas provavelmente podem perder a esperança de estender sua fertilidade com transplantes de células-tronco.

Em vez de esperar uma solução biotecnológica para o problema, talvez seja hora de a sociedade criar mecanismos que permitam às mulheres conciliar seu desenvolvimento profissional com a necessidade biológica de ter filhos antes dos 35 anos.

Mais informações em Ovulated oocytes in adult mice derive from non-circulating germ cells, na Nature, volume 441, página 1.109, de 2006.


Data: 01/11/2006