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Extrato de vinho dá saúde a roedor glutão

Resveratrol, molécula encontrada na bebida, preveniu problemas ligados à obesidade em camundongo

Uma substância encontrada no vinho tinto pode prolongar a vida e combater os efeitos negativos de uma dieta rica em gordura, descobriram cientistas da Escola Médica de Harvard e do Instituto Nacional do Envelhecimento (EUA).

Um estudo sobre o metabolismo (processamento de energia) em camundongos mostrou os benefícios do composto resveratrol, na comparação entre três grupos de roedores.

Enquanto o primeiro foi alimentado com uma dieta normal, o os outros dois tinham refeições ricas em gordura. O terceiro grupo também tomava um extrato de resveratrol.

Após 15 meses, os roedores do segundo grupo se tornaram obesos e morreram mais cedo do que os do primeiro grupo. O terceiro grupo, porém, conseguiu viver tanto quanto os camundongos de dieta normal, mesmo ingerindo mais calorias, auxiliado pelo resveratrol.

Essa foi a primeira vez que se demonstrou tal efeito em mamíferos. "Após seis meses, o resveratrol preveniu a maioria dos efeitos negativos da dieta hipercalórica nos camundongos", diz Rafael de Cabo, um dos coordenadores do estudo, publicado hoje na revista "Nature".

Os roedores que tomaram resveratrol mantiveram sua sensibilidade à insulina, hormônio que regula o metabolismo de glicose e outros carboidratos. Como conseqüência, evitaram problemas de fígado e coração, mesmo sem se tornar magros.

Talvez seja possível que a molécula previna doenças como diabetes tipo 2, cardiopatias e câncer, disse David Sinclair, outro autor da pesquisa. "Mas só com mais tempo e pesquisas poderemos saber", diz.

Os cientistas ainda vão esperar todos os roedores usados no estudo morrerem de causas naturais para fechar os números, mas até agora os resultados têm sido claramente favoráveis ao resveratrol, que também deu mais agilidade motora aos camundongos glutões.

Manutenção das vias

Uma análise genética de vias metabólicas (cadeias de reações químicas no organismo) que normalmente são afetadas por dietas hipercalóricas também revelou benefícios da molécula estudada.

"O resveratrol reverteu os efeitos [maléficos] da ingestão de muitas calorias em 144 das 153 vias que são alteradas", diz Sinclair.

Além disso, ao compararem o padrão de ligamento e desligamento de genes dos animais, os cientistas viram que o grupo alimentado com resveratrol era mais parecido com o de dieta normal do que com o outro.

A molécula parece funcionar por meio da ativação de um gene de múltiplas funções denominado SIRT1. Ele contém a receita para o corpo produzir uma enzima relacionada à longevidade nos roedores.

Brinde com moderação

Em artigo comentando o trabalho de Sinclair na "Nature", outros cientistas saudaram a boa notícia, mas dizem que ainda é cedo para receitar comprimidos de resveratrol como uma panacéia. (E embriaguez de vinho tinto tampouco deve ajudar, já que malefícios do excesso de álcool podem superar os benefícios do resveratrol.)

"Aconselhamos cautela", escreveram Matt Kaeberlein e Peter Rabinovich, da Universidade de Washington em Seattle. "A segurança do resveratrol em humanos para doses altas semelhantes às usadas [nos roedores] é desconhecida, sobretudo ao longo de anos".

Eles recomendam, porém, uma boa maneira de aguardar novas informações: "Sentar e relaxar com uma taça de vinho tinto, que, aliás, tem apenas 0,3% da dose relativa de resveratrol dada aos camundongos glutões".


Data: 03/11/2006