Estudo do Museu Goeldi revela a situação da região biogeográfica mais desmatada da Amazônia
O Centro de Endemismo Belém, onde começa a área denominada 'arco do desmatamento', foi apontado como a região mais desmatada da Amazônia, com apenas 23% de sua cobertura florestal intacta
A informação é dos pesquisadores do projeto Biota Pará, uma parceria do Museu Paraense Emílio Goeldi e da organização ambientalista Conservação Internacional (CI-Brasil) e consta do 'Mapeamento das Remanescentes Florestais do Centro de Endemismo Belém'.
O estudo mostra que 67% dessa área já foi desmatada e que grande parte das espécies ameaçadas de extinção que constam da lista vermelha do Pará ocorrem na região.
O Centro de Endemismo Belém é uma região biogeográfica localizada entre os estados do Pará e Maranhão e configura a área mais antiga de ocupação humana na Amazônia brasileira. Em 2002, apresentava uma população estimada de 5,8 milhões de habitantes. A região abrange 147 municípios (62 no Pará e 85 no Maranhão) e inclui 41 áreas protegidas, sendo 27 Unidades de Conservação e 14 Terras Indígenas.
O Mapeamento divulgado hoje é o estudo científico mais detalhado já realizado sobre o Centro de Endemismo Belém e ilustra, com mapas, as várias categorias de florestas da região, indicando sua situação de exploração. Para obter resultados tão refinados, os especialistas contaram com imagens de satélites e muita pesquisa in loco.
Metodologia
A equipe envolvida no trabalho analisou um mosaico composto por 16 imagens de satélite Landsat e TM5, processados nos anos 2003 e 2004. As conclusões foram validadas por meio de diversas pesquisas de campo, nas quais os cientistas percorreram grande parte da área estudada, dimensionada em aproximadamente 243 mil km² - tamanho equivalente ao Reino Unido, composto pela Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte.
Em campo, os pesquisadores fizeram um levantamento florístico e estrutural em 36 sítios localizados em florestas remanescentes e florestas secundárias (inicial e avançada). Os dados serão apresentados, também, na próxima semana, como contribuição científica para o Programa ARPA (Áreas Protegidas da Amazônia) do Ministério do Meio Ambiente.
Resultados
Os dados obtidos sinalizam que dos 33% dos remanescentes florestais encontrados, 23% correspondem à floresta intacta e os 10% restantes são florestas exploradas. As áreas de floresta encontram-se muito fragmentadas, e neste conjunto se sobressaem quatro blocos de florestas remanescentes, sendo 90% concentrados em Terras Indígenas.
Um dos blocos inclui as últimas reservas de madeira do Centro de Endemismo Belém, encontradas nos municípios de Tailândia, Goianésia do Pará, Ulianopólis e Paragominas.
Nas regiões já desmatadas, os pesquisadores também observaram que 24% da área são utilizados para pecuária e apenas 1,4% apresentam iniciativas de reflorestamento.
No Pará, o Centro de Endemismo Belém inclui a Zona Bragantina, uma área secular de ocupação localizada acima do Rio Guama, e outra situada abaixo deste rio onde eclodem novas frentes de exploração econômica (fronteiras abertas pela expansão da pecuária e de madeireiras) após a construção das rodovias BR 010 (Belém-Brasília), BR 316 (São Luís -Belém) e PA 150 (Bel- Marabá).
A área do Centro de Endemismo Belém sofreu um rápido processo de conversão da paisagem devido à abertura de estradas e à ocupação desordenada. O baixo índice de unidades de conservação também contribuiu para o agravamento do quadro ambiental na região.
Principais conclusões do estudo
O Centro de Endemismo Belém comporta o maior número de espécies ameaçadas de extinção do estado do Pará e possivelmente algumas espécies já foram localmente extintas; Os fragmentos florestais restantes são mais suscetíveis à perda de espécies, à invasão de espécies exóticas, à incidência de fogo e ao colapso de serviços ambientais; As poucas áreas protegidas (UCs e TIs) estão sob fortes pressões, algumas em situações críticas, como é o caso da Reserva Biológica Gurupi (MA); As áreas em regeneração (capoeiras) são extremamente importantes para a manutenção da biodiversidade; A região pode ser classificada como a Mata Atlântica da Amazônia, devido ao seu grau de desmatamento, ameaça e fragmentação.
Recomendações para reversão do processo
Criar novas unidades de conservação, principalmente de proteção integral; Aumentar a governança na região; Garantir a participação efetiva das comunidades indígenas na proteção das áreas florestadas; Expandir as áreas submetidas ao manejo florestal sustentável Envolver o setor privado, principalmente através da criação de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural); Incentivar a recuperação de áreas degradadas; Implantar corredores ecológicos conectando os fragmentos existentes; Monitorar as áreas em regeneração.
O estudo sobre os remanescentes florestais do Centro de Endemismo Belém foi coordenado por Ima Célia Guimarães Vieira (ecóloga e diretora do Museu Goeldi) e Arlete Silva de Almeida (pesquisadora do Museu Goeldi e especialista em Sensoriamento Remoto), e contou com a participação dos técnicos Robson José Carreira Ramos, Adienla Silva Régis, Mario Rosa Santos Jr., Carlos Alberto da Silva, Mario Rosa Santos e Luiz Carlos Batista Lobato, todos vinculados ao Museu Goeldi. Data: 06/11/2006
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