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Avanço do ensino superior é insuficiente

Apesar do aumento de vagas no Brasil, proporção dos adultos que se formam é inferior à de países como Chile e Coréia do Sul. Especialista afirma que as nações que avançaram mais na qualificação de mão-de-obra investiram em áreas de alta tecnologia

O mesmo quadro insatisfatório da qualificação entre jovens de 15 a 25 anos se repete quando se analisa a faixa etária de 25 a 29.

Tabulações da Pnad feitas pela "Folha de SP" para esse grupo mostram que só 8% já concluíram a educação superior e outros 9% ao menos estudam ou estudaram nesse nível.

Trabalhando com a hipótese -remota- de que todos os que ainda estão estudando ou ao menos já freqüentaram uma universidade consigam se formar, isso projetaria para o futuro uma taxa de 17% da população com ensino superior.

Esse avanço seria suficiente apenas para colocar o Brasil hoje no mesmo patamar do México, país em que 16,4% de toda a população adulta tem educação superior.

O que torna mais preocupante esse número é que essa geração de 25 a 29 anos foi uma das primeiras a se beneficiar da forte expansão recente do ensino superior brasileiro.

De 1995 a 2005, a Pnad mostra que o número de estudantes nesse nível de ensino aumentou 175% (de 1,8 milhão para 4,9 milhões).

Foi uma expansão significativa, mas insuficiente. Hoje, o percentual médio de adultos (25 a 64 anos) com nível superior nos países que fazem parte da OCDE é de 24,1%.

Na Coréia do Sul, país sempre apontado como modelo de avanço educacional, a proporção é de 29,5%. No Brasil, não passa de 8%. No Chile, é de 13%.

O avanço brasileiro na educação superior foi também menor do que o verificado entre alguns tigres asiáticos quando se faz um corte apenas na população entre 25 e 34 anos.

Estatísticas da Unesco comparando 11 nações em desenvolvimento de 1995 e 2002 mostram que a proporção desses jovens adultos com ensino superior no Brasil aumentou mais do que em vizinhos como Peru, Uruguai e Paraguai.

No entanto, no período comparado, enquanto a proporção do Brasil variou apenas de 6% para 7%, na Malásia a variação foi de 8% para 16%, e, na Tailândia, de 10% para 16%.

Cuspe e giz

O presidente do Conselho Nacional de Educação, Edson Nunes, aponta também uma falha do crescimento do ensino superior brasileiro.

"Se olharmos a experiência de países que conseguiram avançar, como Coréia, Irlanda ou China, veremos que eles investiram num ensino superior voltado para as áreas de mais alta tecnologia. Nosso ensino superior, no entanto, não contribui tanto para alavancar o crescimento econômico porque sua composição é basicamente de cuspe e giz", diz Nunes.

Para ele, no entanto, nem por isso deve-se cogitar a desaceleração:

"O ensino superior não pode parar de crescer, ainda que de forma errada, porque o estoque de pessoas com esse nível de ensino na população ainda é ridículo do ponto de vista de uma sociedade que ainda é essencialmente jovem".

Francisco de Moraes, gerente de desenvolvimento educacional do Senac-SP, diz que a melhoria da qualificação da mão-de-obra brasileira é urgente também para atrair mais investimentos.

"Quanto melhor for a qualificação de nossa mão-de-obra, maior o potencial do país para responder rapidamente aos investimentos. Se não há trabalhadores qualificados, o investimento em qualquer atividade tem que ser duas ou três vezes maior para dar resultado", diz.

Na opinião de André Urani, professor do Instituto de Economia da UFRJ e ex-secretário municipal de Trabalho do Rio, o investimento na melhoria da escolaridade é importante, mas pode não ser suficiente:

"Se quisermos ter uma economia mais competitiva, não há dúvida de que temos que investir mais e melhor na escolarização. Mas isso não é garantia de que, onde quer que você esteja, vai achar emprego".

Uma das razões para que isso aconteça, segundo Urani, está na crise das regiões metropolitanas.

"Se formos hoje a um subúrbio do Rio ou de SP, encontraremos ali centenas de jovens muito mais escolarizados do que seus pais, mas que não encontram trabalho. São regiões que cresceram em função de indústrias que não existem mais ali", diz.

Para ele, esse problema poderia ser amenizado se houvesse mais mobilidade dessas pessoas para regiões onde há carência de mão-de-obra qualificada. "Temos que pensar em mecanismos que facilitem essa mobilidade e desinchem as regiões metropolitanas."


Data: 13/11/2006