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Aids cresce entre mais velhos no Brasil

ONU elogia País por taxa de testes de HIV e aumento do uso de camisinha

Na contramão da tendência mundial, a epidemia de aids no Brasil está envelhecendo. O último Boletim Epidemiológico da doença, apresentado ontem em Brasília, confirma o aumento de casos novos entre a população mais velha, sobretudo a masculina.

Em 1996, a cada 100 mil homens com idade entre 50 e 59 anos, 18,2 tinham o diagnóstico da doença. A proporção passou para 29,8 em 2005. Entre 1995 e 2005, os casos saltaram 134% - de 824 para 1.930.

Além da resistência ao uso do preservativo por pessoas dessa faixa etária, o aumento também se daria pela manutenção ou retomada da vida sexual com a chegada no mercado de medicamentos para impotência.

Relatório do Programa das Nações Unidas para Aids, também divulgado ontem, aponta que a doença cresceu no mundo: 39,5 milhões de pessoas viviam com o vírus em 2005 - 2,6 milhões a mais do que em 2004.

A África Subsaariana concentra o maior número de casos (63%), mas a epidemia cresce na Ásia. O número de mortes e de novos casos da doença também aumentou.

Em 2006, 4,3 milhões de pessoas se infectaram, 400 mil a mais do que em 2004. As mortes em 2006 chegam a 2,9 milhões. Jovens já representam 40% das novas infecções. Somente em 2006, 1,72 milhão de pessoas com idade entre 15 e 24 contraíram o HIV.

As diferenças entre o contexto brasileiro e o mundial não se limitam à faixa etária. O relatório confirma a tendência no País da redução de casos entre usuários de drogas.

De 1996 a 2005, a queda foi de 71%: de 4.852 para 1.418. Na Europa Oriental e Ásia Central, por exemplo, o número de infecções provocadas pelo uso de seringas contaminadas foi 67% do total registrado.

Na América Latina, usuários de drogas representam 19% do total.

Estável em patamar alto

'A epidemia no País está estabilizada, mas num patamar alto', afirma a diretora do Programa Nacional de DST-Aids do Ministério da Saúde, Mariângela Simão.

Apesar de o Brasil ter registrado 33.142 casos novos em 2005, a diretora afirma que os números representam uma vitória para o programa brasileiro. 'Diante das previsões feitas no início da epidemia, vemos que a estabilização foi uma grande conquista'. Mas é preciso reforçar a prevenção, mostrar para a população que a doença traz um alto custo, não só para o Brasil, mas para o paciente, que tem de enfrentar efeitos adversos dos medicamento'.

Prevenção

A diretora atribui justamente à prevenção algumas das características da epidemia marcadamente brasileiras. A ênfase no uso de preservativos, por exemplo, teria provocado mudança significativa de comportamento.

Na população em geral, o uso de camisinhas aumentou 50% entre 1998 e 2005. Entre jovens, essa proporção é ainda maior. 'Pessoas que tiveram iniciação sexual antes da aids têm mais dificuldades em usar o preservativo.

Daí o crescimento entre pessoas com mais de 40 anos', explica. No caso de usuários de drogas, a redução do número de infecções é atribuída principalmente ao programa de troca de seringas.

A epidemia no País também continua centralizada. Em alguns grupos, a incidência chega a 5%, como entre homens que fazem sexo com homens ou profissionais do sexo.

Na população em geral, o índice não chega a 1%. A Região Sul apresenta a maior incidência: em 2005, foram 23,8 novos casos por 100 mil habitantes.

A tendência de aumento entre mulheres, constatada desde os anos 90, continua. A transmissão vertical (de mãe para filho) caiu à metade.

No relatório do Unaids, o Brasil é novamente citado como exemplo. Pela estabilização do número de casos, pelo aumento do uso de camisinhas e pela taxa de testagem de HIV - cerca de um terço da população já fez o exame.


Data: 22/11/2006