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Taxa de metano cai e pode desacelerar aquecimento

Queimadas são a chave para a estabilização do 2º pior gás-estufa, afirma Nobel. Concentração atmosférica dessa substância não cresce há sete anos; maiores picos de emissão ocorreram em anos de incêndios florestais

A humanidade conseguiu estabilizar as concentrações de um dos maiores causadores do efeito estufa. O feito pode ajudar a amenizar em parte o estrago futuro do aquecimento global, mas com uma condição importante: é preciso parar de queimar florestas.

O gás em questão é o metano ou gás dos pântanos (CH4), principal componente do gás natural que milhões de brasileiros usam em suas casas e carros.

Um estudo publicado hoje mostra que os níveis de metano na atmosfera praticamente não cresceram nos últimos sete anos, em contraste com um aumento de 11% na década de 1980.

O trabalho mostra também que os picos de emissão de metano se deveram principalmente a queimadas, o que sugere que o papel da manutenção das florestas na estabilização do clima do planeta pode estar sendo ainda subestimado.

O metano é um dos gases que aprisionam o calor da Terra na atmosfera, esquentando o planeta. Faz isso com eficiência 30 vezes maior que o gás carbônico (CO2), o principal causador do efeito estufa.

Em compensação, suas concentrações são bem mais baixas: andam hoje em torno de 1.770 ppb (partes por bilhão), enquanto as de CO2 se medem em partes por bilhão.

Além disso, ele dura bem menos tempo na atmosfera: oito anos em média, contra 150 do gás carbônico.

Desde 1978, um grupo de cientistas liderado pelo americano Sherwood Rowland, da Universidade da Califórnia em Irvine, realiza uma tarefa de monge: coletar amostras de ar em pontos isolados do Pacífico e analisar as concentrações de metano em cada uma delas.

Os resultados das últimas análises foram publicados na última edição do periódico "Geophysical Research Letters". Eles mostram que a taxa de metano na atmosfera caiu para quase zero pelo sétimo ano consecutivo em 2005.

"Essa queda não era esperada, porque não se sabia o que mandava mais na variabilidade do metano", diz o físico Paulo Artaxo, da USP, especialista em química atmosférica.

Os motivos da queda ainda são incertos. Mas Rowland e seus colegas a atribuem principalmente à redução nos vazamentos de gás natural de gasodutos e ao crescimento mais lento de emissões de plantações de arroz e de minas de carvão, grandes fontes do gás.

Florestas

Artaxo disse que a principal novidade do estudo é a descoberta de que os picos na emissão de metano nos últimos anos estiveram todos ligados a megaincêndios florestais durante anos de El Niño forte.

As maiores anomalias aconteceram em 1998 e em 2003, quando as florestas da Indonésia e da Rússia (mas também as de Roraima) queimaram muito.

"O estudo faz a partição das responsabilidades pelo metano entre queimadas, oxidação de hidrocarbonetos e vazamentos de gás natural, e descobre que as queimadas mandam na variabilidade", afirmou Artaxo.

Rowland, que ganhou o Prêmio Nobel de Química em 1995 por ter descoberto (juntamente com seu aluno Mario Molina), o mecanismo pelo qual o buraco de ozônio se forma, disse que a estabilização do metano, se continuar, pode ajudar a compensar o aquecimento causado pelo gás carbônico.

"Se controlarmos mesmo as emissões, a quantidade de metano na atmosfera daqui a dez anos pode ser menor que a de hoje. Ganharemos terreno no aquecimento global", afirmou.

Ele diz, no entanto, que apesar de ser possível controlar o metano, não há razão para crer que os níveis permanecerão estáveis no futuro, com o aumento da demanda por gás natural.

Artaxo completa: "Para estabilizar as concentrações de metano é necessário controlar o desmatamento no mundo todo".


Data: 23/11/2006