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UFPE pesquisa acervo indígena achado no Sertão

Vinte mil peças feitas antes do século 16 foram encontradas em Araripina

Mais de 20 mil peças de cerâmica e pedra recolhidas em abril e em outubro, em Araripina, a 720 km do Recife, ocupam mesas, bancadas e até um depósito no 10º andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na capital.

Sobre os fragmentos, dez pesquisadores vinculados ao Núcleo de Estudos Arqueológicos da instituição se debruçam para tentar reconstituir a cultura de um grupo que ocupava, o vale e o platô da Chapada do Araripe antes da chegada dos portugueses, no século 16.

As peças são de sítios arqueológicos espalhados pela zona rural de Araripina, no Sertão. O local tinha sido visitado há 20 anos por um grupo de pesquisadores da UFPE, que catalogou nove sítios.

"Voltamos à área e registramos outros onze", afirma a arqueóloga Claudia Oliveira, professora do Núcleo de Hotelaria e Turismo da universidade.

Segundo ela, a expansão da agricultura ao longo das duas últimas décadas, principalmente para o plantio da mandioca, resultou na fragmentação da cerâmica. Nenhuma peça foi encontrada inteira.

"A cada passagem do arado afloram os pedaços, cada vez menores", descreve a pesquisadora.

Entre o material, saltam aos olhos os fragmentos de vasos pintados com figuras geométricas vermelhas e pretas sobre um fundo branco, além de pedras lascadas e uma inusitada cabeça de quelônio esculpida em argila.

"É um trabalho riquíssimo feito pelos índios pré-históricos. A cerâmica é muito bem-trabalhada", destaca Claudia, que é coordenadora do estudo.

A pesquisadora ainda não sabe de quando é o material. Amostras estão sendo selecionadas e, ainda este mês, devem ser enviadas para a datação da USP.

Outra pergunta que permanece sem resposta é onde essas populações enterravam seus mortos. Nas duas incursões ao local, a dos anos 80 e a de 2006, nenhum cemitério indígena foi encontrado.

Em junho do próximo ano, depois que cessarem as chuvas no Semi-Árido, a equipe da UFPE pretende voltar ao local em busca dos esqueletos humanos.

"Dessa vez vamos procurar os sepultamentos em abrigos sob pedra", adianta a pesquisadora. Segundo Claudia, os índios pré-históricos que ocupavam a área eram semisedentários.

"Eles se fixavam num local por dois ou três anos e, em seguida, procuravam outros terrenos", descreve.

Esses povos cultivavam a terra, possivelmente para o plantio de mandioca, e usavam os utensílios em cerâmica para cozinhar e servir os alimentos. Levantavam ocas que formavam aldeias em semicírculos.


Data: 06/12/2006