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Em 100 anos, Amazônia ficará 8°C mais quente

Estudo de dois anos, que será entregue ao governo, mostra ainda que o Sudeste terá menos umidade no ar

Daqui a cem anos a temperatura média da Amazônia poderá estar 8° C acima da atual, com volume de chuva 20% menor.

Este é um dos cenários traçados pelo meteorologista José Antonio Marengo, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe).

Há dois anos ele coordena um estudo que deve ser entregue em fevereiro para o Ministério do Meio Ambiente, sobre os efeitos do aquecimento global no país.

 "O Brasil é um país vulnerável às mudanças climáticas e algo tem de ser feito para se evitar catástrofes futuras", alerta.

A pesquisa, que segue até 2010, recebe investimento de cerca de R$ 800 mil e deve mostrar como ficará o clima no País nos próximos cem anos. São recursos do Programa de Biodiversidade, do Banco Mundial e do governo britânico que financiam os estudos climáticos feitos pela equipe do CPTEC.

Cerrado amazônico

O primeiro relatório do grupo de pesquisadores aponta que poderá haver uma elevação de temperatura de até 8°C e redução no volume de chuva em 20% na Amazônia.

 "Essa projeção é para um cenário pessimista, se não se respeitar o protocolo de Kyoto, se continuar o desmatamento desenfreado, por exemplo", diz Marengo.

Neste caso, a floresta amazônica atingiria um ponto de saturação em que não poderia mais absorver gás carbônico. "Deixa de ser floresta, passa a ser cerrado", explica o pesquisador.

 "Se a poluição for controlada e o desmatamento reduzido, a temperatura terá subido cerca de 5°C em 2100, mas somente na Amazônia. Teremos menos chuva, mas o Brasil vai continuar sendo um país tropical."

A projeção feita pelos meteorologistas mostra que no Sudeste pode haver redução na umidade do ar e que também choveria cerca de 10% a menos.

 "Mas as temperaturas não subiriam mais que 3°C num cenário otimista e 5°C num cenário pessimista. As chuvas serão mais fortes, com tempestades mais severas."

Entre as medidas que devem ser adotadas desde já para se evitar tais conseqüências estão a redução da poluição proveniente de veículos por meio do uso de combustíveis como álcool e gás natural e a redução nos desmatamentos e queimadas.

 "O ideal seria investir em energia eólica, em energia solar. Se a chuva não chega e a temperatura aumenta, as pessoas começam a recorrer a ar-condicionado e outros recursos que gastam energia elétrica", explica o pesquisador. "Isso levaria ao caos."

Parte dos danos do aquecimento já é inevitável

Mesmo que as emissões de gases estufa fossem suspensas hoje, ao menos uma parte dos danos do aquecimento não pode mais ser evitada: a temperatura e o nível do mar continuariam subindo por mais um século.

Essa é uma das conclusões do relatório do Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC), que será lançado em fevereiro.

O jornal espanhol El País antecipou na terça-feira alguns dos dados que foram levantados nos últimos seis anos por mais de 2.500 pesquisadores. É provável que até o final do século a temperatura esteja 3ºC mais quente.

Desde 2001, já tivemos seis dos sete anos mais quentes desde que esse registro começou a ser feito. O número de noites muito frias caiu 76% entre 1951 e 2003, enquanto o número de noites muito quentes subiu 72%.

Com o derretimento da camada de gelo dos pólos, de 1993 a 2003 o nível do mar subiu 0,8 mm por ano. O principal motivo, reforça o relatório, é a concentração excessiva de gás carbônico e metano na atmosfera, a maior dos últimos 650 mil anos.


Data: 28/12/2006