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"Universidade Nova precisa de mais discussão", dizem reitores

Um projeto que ainda precisa ser muito discutido. Essa é a opinião dos dirigentes de universidades federais do país a respeito da proposta de reforma acadêmica apresentada pelo Ministério da Educação (MEC), conhecida no meio acadêmico de Universidade Nova. A principal novidade da proposta é acabar com o atual formato dos cursos. O estudante passaria a ingressar em uma universidade, nos moldes do ensino europeu, e não mais em um determinado curso, como é feito atualmente no Brasil. O regime do ensino superior passaria a ter três ciclos. "Fazemos parte de um grupo de discussão sobre o projeto. Essa é uma proposta séria e importante, mas ainda há muito o que se discutir, ela ainda não está fechada. As discussões sobre o tema têm se dado em ambientes restritos e precisam ser alargadas, abertas para a comunidade", ressalta a reitora da UniRio, Malvina Tuttman.

Mesmo defendendo uma maior discussão sobre o tema, ela considera que repensar os modelos de universidade existentes atualmente é uma medida fundamental para o futuro do ensino superior no país. "Ao longo do tempo, os modelos de universidades que temos não evidenciaram uma adequação às necessidades existentes. Apesar de existirem muitas instituições com trabalhos importantes, as universidades como um todo não têm dado resposta à formação profissional do país. Esse projeto, por exemplo, começou na Bahia e agora já tem mais adeptos", conta Tuttman.

Presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Paulo Speller lembra que a Andifes foi co-patrocinadora de um seminário realizado em Salvador, no final do ano passado, sobre o projeto da Universidade Nova. "Vemos de uma forma positiva o debate sobre novas formas de organização do cenário acadêmico. Ou seja, a busca por novas formas de ampliação do acesso, com o objetivo de equacionar problemas imediatos", justifica Speller.

Para o dirigente, um dos tópicos mais interessantes do novo projeto é o fato de retardar a escolha da profissão por parte do aluno. "Hoje, esta escolha é feita muito cedo e no projeto da Universidade Nova o aluno passará por três fases, vai ter contato com as grandes áreas do conhecimento e só fará a opção por uma carreira após três anos. No mês de março, vamos realizar um seminário em Brasília, para levar propostas de programas e projetos ao MEC, que é o mantenedor das instituições, com o objetivo de melhorar a educação", avisa o dirigente.

Apesar de ser um projeto novo, o reitor da UFF, Roberto Salles, conta que a sua instituição já havia adotado um projeto como o Universidade Nova na Faculdade de Engenharia da instituição. "Na verdade, já tínhamos adotado esse modelo na Engenharia, mas mudamos porque não estava dando certo. Inicialmente, não tenho nada contra o projeto, mas defendo que ele seja melhor estudado e debatido", afirma Salles, fazendo coro com os demais reitores.

De acordo com o dirigente, não é possível saber se todas as universidades conseguiriam se adaptar a um projeto como este. "Não sei se esse modelo único seria interessante para todos. Em qualquer novo projeto ou mudança, temos que pensar em primeiro lugar no aluno. Ele é a principal pessoa dentro de uma instituição, as universidades só existem por causa dele", afirma.

O projeto da Universidade Nova foi apresentado inicialmente pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e está sendo difundido pelo seu reitor, Naomar Monteiro de Almeida Filho. De acordo com o novo modelo, o regime do ensino superior passaria a ter três ciclos. No primeiro, todos os estudantes ingressariam em um bacharelado interdisciplinar, que duraria três anos. Ele forneceria ao universitário uma formação geral, independentemente da profissão que o jovem quiser seguir. Os alunos fariam estudos clássicos de História, Filosofia, Ética, Lógica, Pensamento Matemático, Cidadania, Política, Saúde e Artes. O estudante também poderia antecipar o conteúdo da formação básica da área profissional que pretende cursar. A conclusão desta etapa já daria ao estudante um diploma universitário, como bacharel em Artes, Ciências, Humanidades ou Tecnologias.

Pela proposta, quem quisesse continuar os estudos depois do bacharelado interdisciplinar passaria por algum tipo de seleção interna para o mestrado acadêmico, a licenciatura ou a formação profissional de curta, média ou longa duração. Nesse segundo ciclo, com duração média de três anos, os estudantes fariam atividades práticas de sua profissão. A última etapa da Universidade Nova seria uma pós-graduação. Com uma concepção tão inovadora, os idealizadores do projeto afirmam que o vestibular não teria mais lugar nas universidades. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por exemplo, é visto por educadores como uma alternativa viável de seleção.

Comunidade se posiciona de forma contrária - Os representantes da comunidade acadêmica de instituições federais foram unânimes em discordar da Universidade Nova. "Esta é mais uma proposta que não vem acoplada a um aumento dos recursos para o ensino público. É uma proposta que não põe o dedo na ferida. O projeto tem como meta resolver o problema do acesso e acabar com o vestibular. Só que a disputa vai continuar existindo, em outro momento, que é a escolha da área profissional", critica o presidente do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes), Paulo Rizzo.

Coordenadora-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj), Ana Maria Ribeiro também é categórica ao falar sobre o tema. "Sou frontalmente contra a proposta. Acho que é populista e que muitos reitores estão pensando apenas em aumentar o número de alunos e por tabela os recursos orçamentários. Numa sociedade que exige cada vez mais cedo a profissionalização, vamos colocar o universitário por três anos para ter uma formação geral?", indaga a servidora.

As mesmas dúvidas de Ana Maria são compartilhadas pelo coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Rural, João Brandão. "Na verdade, a pessoa vai sair do primeiro ciclo com um diploma de nada. Todo mundo vai ser bacharel em tudo. Esse debate não pode simplesmente sair de um grupo de reitores, deve ser feito com todos. Acho essa proposta um erro", salienta o estudante.

Coordenador do DCE da UFF, Afonso Madureira acredita que este tipo de proposta não dará certo. "Não sei se este tipo de projeto daria certo em um país como o nosso. As pessoas teriam que estudar matérias teóricas, como Artes, Filosofia, entre outras, que muitas vezes não corresponderiam ao curso desejado. Os jovens deveriam ter mais tempo para amadurecer a escolha da profissão. Acho que aumentar o tempo de permanência no ensino médio poderia ser uma saída melhor", sugere o universitário.


Data: 16/01/2007