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Mudanças superaram projeção da ONU de 2001

Climatologistas dizem que último relatório era cauteloso demais

Sete dos principais climatologistas do planeta assinam hoje na revista americana Science um artigo em que mostram como as mudanças decorrentes do aquecimento global foram mais rápidas do que esperava a ONU em 2001.

O alerta antecede o tom da apresentação, hoje em Paris, do novo relatório da instituição sobre o tema.

"Eu diria que o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) está fazendo um trabalho excelente. Mas digamos que ele tende mais a uma posição cautelosa demais, em vez da alarmista", explicou um dos autores, o alemão Stefan Rahmstorf, do Instituto Potsdam de Pesquisa do Impacto Climático.

Além de Rahmstorf, especialista em física dos oceanos, assinam o texto o americano James Hansen, da Nasa, um dos primeiros defensores públicos de medidas para evitar as mudanças climáticas, e Ralph Keeling, filho de Charles, a primeira pessoa que mediu o aumento do nível de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, indicando seu impacto no equilíbrio da Terra.

Os cientistas compararam as antigas previsões do IPCC para o período de 1990 (base para o Protocolo de Kyoto) a 2006 a dados coletados até o ano passado. Como toda previsão climática, feita com base em dados coletados em campo e modelos matemáticas refinados, há uma margem de acerto e de erro.

Segundo eles, o IPCC acertou quanto à concentração de CO2 (380 partes por milhão), quase perdeu no acréscimo de temperatura (0,33°C, o cenário mais quente do painel) e errou feio na projeção do aumento do nível dos oceanos (menos de 2 milímetros por ano, quando na verdade foi de 3,3 mm).

Preparação

Com o artigo, os sete não pretendem criticar o trabalho do painel - do qual todos fazem parte -, mas sim "afastar o mito de que o IPCC tem 'exagerado' o aquecimento global", diz o alemão.

É quase uma ação preventiva. Hoje, o novo relatório do IPCC mostrará, preto no branco, que o homem é sim o culpado pelo aquecimento global. A certeza é de mais de 90% - o que, no jargão científico, é responsabilidade inequívoca.

O dado desmente quem diz que a Terra está apenas passando por mais um ciclo natural e que as atividades humanas têm pouco impacto no clima. Uma saída para os "céticos do aquecimento" é colocar o próprio IPCC em dúvida - tese difícil de se defender com esta análise na Science.

Com o fato consumado, o debate político e o econômico mudam. Países que não assumiram ainda sua parcela de culpa, especialmente os Estados Unidos, serão pressionados a mudar seu estilo de produção e consumo.

Nações em desenvolvimento, como o Brasil, terão de encontrar alternativas para frear suas emissões de gases-estufa sem perder o trilho do crescimento.

Depois deste, o próximo estudo do IPCC só sai em 2012, quando termina o prazo inicial do protocolo, como lembra o brasileiro Paulo Artaxo, membro do painel. "Este relatório será a base das negociações pós-Kyoto. Imagina as repercussões econômicas..."

Apesar da urgência, o IPCC não deve adotar tom alarmista. Deixará a outras esferas da ONU e aos governos este papel. Os dados, acreditam os integrantes do painel, serão suficientemente fortes para acelerar mudanças - também porque o grau de incerteza diminuiu desde o último relatório.

"Não tenho certeza se um alerta pavoroso provocaria uma reação mais rápida", diz Rahmstorf. "Acredito que devemos atuar com a informação mais precisa possível".

Apagão

Como forma de protesto contra o aquecimento global, monumentos pelo mundo afora como a Torre Eiffel, em Paris, desligaram suas luzes durante cinco minutos. A manifestação, batizada de "cinco minutos de respiro para o planeta", foi seguida pelos moradores de diversas cidades.

Ironicamente, o movimento pode aumentar as emissões de gases-estufa: quando os consumidores voltam a acender suas luzes, religam centrais térmicas que usam carvão e gás como combustível - um processo altamente poluente. (Com EFE)


Data: 02/02/2007