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Meio ambiente: Infra-estrutura urbana e saúde pública deverão ser repensadas

O Brasil precisa conhecer as vulnerabilidades à mudança climática de suas várias regiões, para adotar uma política pública de "redução de danos"

"A mudança climática já está aqui. Não tem mais o que combater. Temos de avaliar a situação e propor medidas para poder reduzir o prejuízo", afirma José Marengo, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

"Por enquanto, o Brasil não tem um plano nacional de vulnerabilidade, como existe em outros países do mundo", diz.

Na Holanda, por exemplo, um plano de reordenamento territorial e agrícola já está em curso. O país fica abaixo do nível do mar e deve deixar a água invadir parte de seu território.

Um modelo feito por Marengo mostra que, no pior cenário, as temperaturas vão subir em até 6 C na maior parte do Brasil durante o próximo século. Segundo Marengo, é bom que se entenda que a mudança do clima está perto das pessoas.

"Uma zona com bastante risco é o Semi-Árido. As secas mais freqüentes poderão gerar refugiados do clima. Grandes ondas de migração."

No caso do Sudeste, como os episódios das chuvas intensas devem aumentar (mesmo que não ocorra uma elevação no volume total de precipitação no ano), a potencialização de problemas já conhecidos dos moradores das grandes cidades parece inevitável.

"São Paulo com qualquer chuvinha vira "una Venezia". Isso é resultado de uma mistura dos efeitos das mudanças do clima com coisas que não têm a ver", explica o peruano Marengo, com sotaque carregado.

"As pessoas moram nas encostas e nos leitos dos rios. A cidade está muito impermeável, com muito lixo. Tudo isso precisa ser analisado."

Para Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fiocruz e membro do Grupo de Trabalho 2 do IPCC - voltado para adaptação e vulnerabilidade -, a imagem de que alguns problemas serão potencializados é mais correta.

"Temos um mapa de vulnerabilidade sobre o impacto do clima nas doenças que é válido hoje. E daqui a 30 anos?"

Os casos de malária, dengue e diarréia tendem a aumentar onde as doenças já existem: o aquecimento diminui mais ainda as diferenças de temperatura entre inverno e verão, facilitando a reprodução de insetos vetores de doenças.

O pesquisador diz que haverá um risco maior nas zonas urbanas de leishmaniose e leptospirose. "Isso vai ocorrer. Como vamos nos virar? Na verdade, a pergunta é outra. Temos de saber como o poder público vai acudir as pessoas." (EG)


Data: 05/02/2007