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Quem vencerá a guerra da TVD aberta x IPTV?

Alta definição de som e imagem. TV em todo lugar e interativa. Por mais que governo e radiodifusoras falem nas maravilhas da alta definição – ou HD, na sigla inglesa – ainda é o sonho de interatividade que seduz os telespectadores do Brasil. Quem espera pela migração da TV aberta para o padrão digital (SBTVD-t) sonha em navegar na rede mundial de computadores usando o controle remoto ou algum teclado especial.

Nas comunidades que discutem o assunto no Orkut, uma das dúvidas mais recorrentes é se a TVD que o ministro Hélio Costa tanto fala vai permitir o acesso de todos à internet, sem custos adicionais, como anunciado. Das cinco plataformas de TVD existentes hoje (satélite, cabo, terrestre, celular e web), a TV aberta certamente é a de menor potencial interativo. Nos bastidores do poder, uma guerra ainda silenciosa é travada entre os defensores da TV aberta e os defensores da IPTV, a televisão transmitida em alta velocidade pela internet, 100% interativa.

 

Mas afinal o que é interatividade? Antes de falar sobre o que foi prometido no decreto do Sistema Brasileiro de TV Digital-t, nº 5.820 (29/06/2006), e o que vai ser entregue à população, é preciso esclarecer essa dúvida. O dicionário Aurélio define interação como uma ação recíproca. Quando você conversa com um amigo e os dois saem viajando de um tema a outro, vocês estão interagindo. O tom da conversa muda de acordo com os sinais emitidos pelos dois interlocutores. Mas se só um fala e o outro escuta, não há interação.

No universo computacional, essa interatividade só é possível em meios que permitem a via dupla para troca de informações. É o que chamam de canal de retorno. E a TVD aberta, terrestre, só poderá oferecer esse canal de troca através de um modem na caixinha receptora (set-top box) e parcerias com provedores de serviço de internet. Adaptações e serviços extras que na prática deverão ser contratados pelo usuário – fugindo da proposta de serviço gratuito que o decreto da Presidência da República estabeleceu há alguns meses.

 

Em novembro de 2006, durante o lançamento do Fórum do SBTVD-t, o ministro Hélio Costa teria afirmado que os receptores começariam a ser vendidos este ano, sem o middleware. "Lá na frente ele será incorporado. O primeiro conversor será muito simples, e vai garantir a qualidade da imagem." O fato foi noticiado pela Agência Estado e reflete uma certa desinformação do ministro sobre sua TVD – o que termina confundido o público.

"Essencialmente, todas as caixas têm que ter middleware. Sem ele você não consegue fazer com que a caixa funcione", esclarece Walter Duran, diretor de tecnologia da Philips para a América Latina. A empresa, por sinal, está investindo US$ 25 milhões em pesquisa e desenvolvimento de software e hardware aqui no País, adequando-se às especificações do padrão brasileiro de TV digital. As set-top boxes são o grande foco de sua linha de produção.

 

O sonho da TV interativa não é utopia. É realidade nos cinco continentes e até entre nossos vizinhos latino-americanos como Uruguai e Argentina. Na China, a popularidade da banda larga alavanca a penetração de serviços agregados de telecomunicação como IPTV. A TV chega na sala de estar dos assinantes com toda interatividade que os brasileiros andam sonhando.

A China tem mais de 137 milhões de usuários de internet, número que cresce 40% ao ano desde 2000. Desses, 100 milhões têm banda larga em casa. O passo acelerado de crescimento transformou a mídia na grande vedete entre audiências e anunciantes, gerando um volume de 4,8 bilhões de RMB (Ren Min Bi) em negócios, o equivalente a US$ 620 milhões por ano.

 

"Até 2004, radiodifusoras e teles não competiam. O regulador da radiodifusão abriu o mercado para a IPTV em 2004, deixando conteúdo e EPG (guia de programação eletrônico) a cargo das emissoras. Teles e TVs trabalham juntas e a IPTV é formalmente aceita como modelo de TVD", conta Li Huai Yu, COO do Shangai Media Group e da BesTV. As informações, divulgadas na semana passada durante o IPTV World Forum Latin America, reacenderam a polêmica do jogo de interesses por trás da falada TVD.

"Realmente seria muito mais fácil promover inclusão digital, oferecer serviços de telemedicina e teleeducação via IPTV", ponderou Hélio Rubens Nobre, diretor-executivo da Alcatel-Lucent, ao ouvir o chinês falar. A situação é clara para Alberto Luchetti, fundador da Associação Brasileira de Emissoras de IPTV. "Esse assunto incomoda muito as famílias midiáticas do país". Apesar dos entraves, Telefônica, Brasil Telecom e Telemar já se posicionam para lançar suas plataformas de TV por IP. "Nos próximos seis meses começamos a lançar novos produtos", revela Ana Paula Maciel, gerente de Novos Negócios do grupo Telemar.


Data: 08/02/2007