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Ensino público piorou mais que o privado

Embora o desempenho dos alunos tanto da rede privada quanto da pública tenha piorado nos últimos dez anos, dados das últimas avaliações feitas pelo governo federal apontam que aumentou ainda mais a distância da qualidade de ensino entre os dois sistemas.

Tabulação feita pela Folha mostra que a queda entre 1995 e 2005 nas médias no Saeb (exame aplicado pelo Ministério da Educação) foram maiores na rede pública, o que aumentou a vantagem dos colégios particulares. O caso mais grave ocorreu no 3º ano do ensino médio (antigo colegial), em que a diferença entre os dois sistemas cresceu 182,95% em português. Em 1995, as particulares tinham médias 8,27% maiores do que as públicas, número que subiu para 23,4% em 2005. O mesmo movimento aconteceu em matemática e também na 4ª e na 8ª séries do fundamental (antigo primário).

O período do levantamento abrange os governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O poder federal tem a responsabilidade de induzir políticas educacionais para o país, que devem ser aplicadas pelos dirigentes estaduais e municipais, no caso da rede pública. O Ministério da Educação do governo Lula informou que apenas o Inep iria se manifestar sobre os dados --o instituto é responsável pela aplicação da prova, mas não tem poder de decisão com relação às políticas públicas para o país.

O presidente do órgão, Reynaldo Fernandes, estava em trânsito e não pôde atender a reportagem, segundo sua assessoria de imprensa. Já o titular do MEC na gestão FHC (1995 a 2002), Paulo Renato Souza, disse que há dez anos a prioridade era colocar o maior número possível de alunos nas escolas, pois o atendimento era baixo. Agora, é preciso focar nos resultados.

"Acho que as escolas, em geral, não estão focadas no aprendizado do aluno, nos resultados. E isso é mais grave no setor público", disse. Representantes de secretários estaduais e municipais de educação atribuem a diferença do desempenho de escolas públicas e privadas a problemas sócio-econômicos e a políticas de curto prazo.

Para Lisandre Maria Castelo Branco, professora da Faculdade de Educação da USP, o problema está no desvio de função das escolas nos últimos anos. "A escola é cada vez menos escola. Ela passa a ser um local de assistencialismo quando passa a distribuir camisinha, por exemplo. As escolas mais tradicionais, que têm como função ensinar, são as que têm melhor resultado", diz.

Para Roberto da Silva, professor do departamento de administração escolar e economia da educação da Faculdade de Educação da USP, a explicação para a queda de desempenho também na rede particular é a "concorrência" com os meios eletrônicos. "A década avaliada sofreu um verdadeiro "boom eletrônico", com celular, internet e games de todos os tipos que, se despertam outras habilidades, como a resolução de problemas, concorrem com os hábitos de leitura."

A prova

O Saeb é aplicado a cada dois anos a alunos da 4ª e 8ª séries do fundamental e 3ª do médio. A idéia é mostrar a situação da educação, por meio de provas de português e matemática.


Data: 08/02/2007