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Qual o futuro da Amazônia?

Dados apresentados por pesquisadores do Inpa indicam que a continuação das emissões de gases, seguindo as tendências atuais, pode levar à transformação da floresta amazônica em savana, com temperaturas com picos de até 50º C

Transformação da floresta amazônica em savana, aumento da temperatura em 4%, acima da média do planeta, com picos de mais de até 50º C até 2070, diminuição da quantidade de chuva na região e períodos de seca mais longos.

Essas informações podem até parecer roteiro de filme de ficção científica, mas na realidade é apenas algumas das previsões para a Amazônia feitas por modelos matemáticos, por alguns dos cientistas que compõem o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).

As mudanças acontecerão caso o homem não faça nada para frear o aquecimento global, o qual é causado pela emissão de gases (gás carbônico, óxido nitroso, entre outros) do efeito estufa emitidos para a atmosfera.

O principal fator é a alta atividade industrial humana somada à emissão de gases pelo desmatamento em florestas como as da Amazônia.

Os dados foram mostrados durante o seminário: "Aquecimento Global: Implicações do Relatório do IPCC para a Amazônia", realizado na quarta-feira (14/2).

Os palestrantes foram os pesquisadores do Inpa, Antônio Ocimar Manzi, pesquisador do Inpa e Gerente Executivo do Programa de Grande Escala da Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa), e Philip Fearnside, pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Ecologia (Cpec/Inpa).

A apresentação consistiu em uma síntese do quarto relatório de avaliação do sistema climático, dirigido aos tomadores de decisão (governos, grandes corporações, etc), onde foram analisadas evidências das mudanças globais, calculadas as forçantes radiativas e feitas projeções futuras com modelos climáticos.

Manzi disse que a estimativa é que o calor aumente, em escala planetária, cerca de 0,2º C na próxima década, da mesma forma que na década passada.

"A Amazônia sentirá mais os efeitos da queima dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo, etc), responsáveis pela emissão dos gases de efeito estufa. O que, considerando uma sensitividade climática de probabilidade média (com 50% de chance de englobar o valor real), poderá elevar a temperatura em 1º C nos próximos 20 anos e de 3 a 4,5º C até 2100. Isso se deve porque a região está localizada em uma parte continental do planeta que deve se aquecer mais que o aquecimento médio da Terra", informou.

Manzi também falou que a concentração de gás carbônico em 2005, na atmosfera global, era de 379 partes por milhão (ppm), com uma média de aumento de 1,9 ppm por ano nos últimos cinco anos, considerado elevada, segundo os cientistas.

Segundo Manzi, o aumento da temperatura no planeta, no período de 1906 a 2005, foi de 0,74ºC.

Durante o seminário, ficou uma grande dúvida: O el niño, um dos principais fenômenos meteorológicos que provoca secas em grandes parte da Amazônia passará a ser permanente?

Segundo Fearnside, nota-se que o el niño está mais comum. Ele também disse que várias pesquisas indicam que o aumento da freqüência é em conseqüência do aquecimento global, o qual causa "condições tipo el niño", ou seja, aquecimento da água da superfície no oceano Pacífico, o gatilho que provoca o el niño, responsável pelas mudanças climáticas em várias regiões do mundo, como, secas, chuvas torrenciais e ondas de calor.

Fearnside destacou que apesar das imprecisões anteriores dos modelos matemáticos, os quais são usados para calcular as conseqüências do efeito estufa e, conseqüentemente, o aquecimento da Terra, hoje, há uma confiança maior nos modelos.

Ele ressaltou que o modelo do Haedley Center, localizado no Reino Unido, reproduz bem o clima atual da Amazônia e o aquecimento das águas do oceano Pacífico. E, tudo indica, que haverá uma quantidade maior de el niños.

"Sempre que o fenômeno acontece causa secas na Amazônia e incêndios, como os de Roraima e ondas de calor na Europa, por exemplo, o de 1998 e 2003", disse.

Em relação à Amazônia, outros fatores também contribuem para o alerta vermelho, principalmente, os incêndios. Foi o que informou Fearnside. Isso porque eles queimam a base das árvores, ocasionando a morte das mesmas.

Após a morte, elas viram combustível para o próximo incêndio, o qual será bem mais prejudicial.

"Existem pesquisas realizadas pelo Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), um convênio entre o Inpa e o Smithsonian (EUA), que monitoram mais de 80 mil árvores, onde observou-se que as árvores que enfrentam condições secas na borda estão morrendo. Os mesmos dados também são confirmados pelos programa LBA", alertou Fearnside.

A boa notícia - Apesar de todas as catástrofes, a boa notícia é que em um estudo publicado na Nature, em 2006, as probabilidades da sensitividade climática serem muito altas, tudo indica que serão menores do que se pensava antes.

Isto significa que, no caso de um cenário de sensitividade climática alta (95% de chances de englobar o valor real), a temperatura antes prevista para ser de até 50º C em 2070, só alcançaria um patamar tão elevado em 2100. Segundo Fearnside, o homem tem pouquíssimo tempo para reverter a situação.

"Com o aumento da temperatura, a floresta passa a necessitar de uma quantidade maior de água para a manutenção de suas funções. Contudo, a chuva poderá diminuir. Com isso, a floresta tenderá a desaparecer por duas razões. A primeira, a alta temperatura e, a segunda, a pouca quantidade de água. Conseqüentemente, clareiras surgirão no meio da selva e, ao longo dos anos, a floresta poderá transformar-se em savana", explicou Fearnside.


Data: 23/02/2007