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Ceará teve redução de 20% nas chuvas

Cuidar do desmatamento da Amazônia e da renovação da matriz energética são desafios do Brasil diante do relatório apresentado pelo IPCC. Alagoas e Pernambuco são exemplos de cidades que seriam afetadas pelas mudanças climáticas

O IPCC traz recados também para o Brasil. O documento mostra um aquecimento mais intenso no fim deste século, no Centro-Oeste e no Norte e regiões que abrigam a Floresta Amazônica. Projeções mostram que o aumento da temperatura poderá transformar a Amazônia num cerrado.

No Nordeste, Alagoas e Pernambuco são exemplos de cidades que seriam afetadas pelas mudanças climáticas. Essas regiões teriam redução de 10% a 20% das chuvas de acordo com o cenário apresentado.

Depois do anúncio do relatório internacional do IPCC, pesquisadores do Inpe apresentaram, nessa última semana na mídia, um estudo com novas conclusões sobre o tema no Brasil.

O estudo durou dois anos e foi realizado por grupos de trabalho, analisando as mudanças climáticas no País e fazendo projeções para o fim do século. O estudo traz alertas para o Norte e o Nordeste. A temperatura na Amazônia poderia subir 5,3 graus até 2100, no cenário mais pessimista. No mais otimista, seria até três graus, o que já provocaria mudanças em espécies de plantas. No Nordeste, a situação também seria grave, com um aumento de 2,2ºC a 4ºC na temperatura.

E o volume de chuva diminuiria 15%. O material deve servir como referencial para que o governo tome providências no sentido de diminuir as conseqüências das mudanças climáticas nas próximas décadas.

Um estudo da Funceme já mostrou que o Nordeste, inclusive o Ceará, teve uma redução de 20% nas chuvas, de 1960 a 2003.

"O período coincide com o impacto do dióxido de carbono no clima da Terra", diz o meteorologista David de Ferran, que realizou o estudo A Tendência das Chuvas sobre o Ceará e suas Implicações. A redução das chuvas está relacionada à alteração das temperaturas da superfície do mar e provavelmente com o aumento do dióxido de carbono.

O meteorologista lembra que o estudo da Funceme já mostrava essa redução das chuvas no Nordeste, caminhando na mesma direção do estudo brasileiro. Mas o estudo da Funceme é fato e o apresentado recentemente trata muito de projeções, destacando o cenário otimista, se ações forem tomadas para diminuir o problema, e o cenário pessimista se nada for feito.

O relatório do IPCC também apresenta diagnósticos de mudanças climáticas já existentes e projeta quadros para cenários otimista, intermediário e pessimista. O aumento da temperatura de 1,8 graus é o mais otimista, mas pode ir além dos 4 graus o aumento.

Embora o Brasil apareça com o perfil diferente com relação à emissão de gases, porque tem grande parte da matriz energética sendo limpa, precisa combater as queimadas. "Precisamos diminuir as emissões de gases, investir em energia limpa, reduzir emissões em indústrias e automóveis. Os efeitos do aquecimento persistem por séculos e atingem todos", frisa o meteorologista José Brabo Alves, da Funceme.

Se a temperatura de regiões semi-áridas, como a nossa da América do Sul, aumentar meio grau já teremos expectativas de mais eventos de seca, o que seria muito prejudicial para a agricultura. Muitas culturas teriam que ser adaptadas, teríamos que investir em culturas com menos exigência de água, segundo Brabo. "Se a agricultura de subsistência já é um problema, teríamos um cenário pior, de escassez de comida para muitas populações".

O aumento do nível médio dos mares também poderá afetar cidades brasileiras como RJ e Recife. Poderá haver encurtamento de faixas de praia em cidades como Fortaleza e inundações em muitas regiões.

"Na última década, o nível dos oceanos subiu quatro vezes mais do que nos 40 anos anteriores devido à expansão térmica", frisa o físico Alexandre Costa, da Funceme. A temperatura na camada de gelo permanente no Ártico aumentou em até três graus nas últimas décadas. O encurtamento das geleiras ameaçará o suprimento de água para 50 milhões de pessoas, pelo menos.

Ao lado do derretimento das calotas polares, teremos os extremos no clima, secas mais intensas em regiões como o Nordeste, ondas de calor, eventos de precipitação intensos. Nos ciclones tropicais, a velocidade do vento e as chuvas serão mais intensas.

A quantidade de chuvas aumentou no leste das Américas do Norte e do Sul, norte da Europa e centro e norte da Ásia. As secas estão mais fortes no Sahel (África), no Mediterrâneo, no sul da África e em algumas áreas do sul da Ásia. A biodiversidade é outro ponto que será afetado no Planeta.

"Alguns corais já são afetados na costa da Austrália e têm mudado de coloração pelo aumento da temperatura", diz Brabo.


Data: 05/03/2007