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Nova Délhi quer criar energia a partir de suas toneladas de lixo

As autoridades de Nova Délhi, uma das cidades que mais produz lixo na Índia, estudam transformar em combustível parte das 7 mil toneladas de resíduos que se amontoam diariamente nas ruas e lixões da metrópole.

 

O lixo é, há anos, um grande problema na capital indiana, com 14 milhões de habitantes, onde montanhas de plásticos, latas, papelões e resíduos orgânicos se acumulam em esquinas, nas quais é freqüente ver os mais pobres buscando materiais para reciclar ou, simplesmente, algo para se alimentarem.

 

Parte dos restos são queimados em fogueiras acesas em plena rua, sem nenhum controle, enquanto a maior parte acaba em enormes lixões nos arredores da capital.

 

Agora, a prefeitura de Nova Délhi decidiu buscar o lado rentável destes gigantescos volumes de lixo, e criar, a partir disso, combustível, por meio do sistema "Combustível Derivado de Resíduos" (RDF, na sigla em inglês), que divide opiniões.

 

Nas últimas semanas, cinco empresas locais concorreram pelos "direitos" das montanhas de lixo geradas na capital indiana.

 

Segundo um artigo publicado recentemente na revista indiana "Mint", com um investimento inicial de 500 milhões de rupias (cerca de 8,5 milhões) o processamento do lixo geraria pelo menos 210 milhões de rupias anuais (cerca de 3,5 milhões), o que, a longo prazo, o transformaria em um negócio muito rentável.

 

Trata-se de aproveitar o calor da incineração para obter energia.

 

Mas, embora seus responsáveis o tenham apresentado como um projeto ecologicamente correto, o fundador da Associação Nacional de Resíduos Sólidos da Índia (NSWAI), Amiya Kumarn, afirma que é "mais prejudicial que beneficente".

 

"O principal problema é que, aqui, o lixo não é separado de forma adequado e, ao ser queimado, libera gases tóxicos", afirmou Kumar, contrário ao pré-acordo firmado por Nova Délhi com uma empresa local, para produzir energia a partir da incineração do lixo.

 

Embora a prefeitura de Nova Délhi não tenha tomado nenhuma decisão definitiva, foi anunciado esta semana a assinatura de um pré-acordo com uma das companhias, a IL&FS, que abriria as portas para a produção do combustível RDF.

 

"Lixo é dinheiro. E os responsáveis estão muito conscientes disso", ressaltou Kumar, admitindo que, infelizmente, há muitas "interferências políticas" na hora de tramitar o problema dos resíduos na capital.

 

"Sinto dizer, mas há muita corrupção em torno deste tema", criticou, antes de considerar que um dos primeiros passos para resolver a crise do lixo na cidade é fazer com que as autoridades apliquem um bom sistema de separação dos resíduos.

 

Outros ativistas ambientais alertaram para o risco da queima de produtos nocivos sem a tecnologia adequada. A agência indiana de imprensa "ANI" informou esta semana que o projeto representava "uma grande preocupação para a saúde pública".

 

Segundo a "ANI", a tecnologia que as autoridades prevêem aplicar "já foi descartada em lugares como a Europa e os Estados Unidos, pois produz poluentes cancerígenos e metais pesados, como o chumbo e o mercúrio".

 

Em todo caso, o responsável da NSWAI ressaltou que, para que a produção de RDF seja posta em andamento, ainda deve superar um emaranhado de trâmites burocráticos.

 

"Ainda falta muito tempo. Afinal de contas, isto é a Índia", acrescentou, resignado.


Data: 09/03/2007