México instala lousa digital em 165 mil salas de aula
Projeto multimídia busca reconquistar atenção do aluno
Provavelmente trata-se da mais ousada, imaginativa e ambiciosa implantação de tecnologia na educação do mundo - a colocação de lousas digitais interativas em 165 mil salas de aula do ensino elementar público até o fim do ano, no México.
E a iniciativa poderá ser estendida para fora do país, pois, ao contrário das expectativas, o Enciclomedia não é meramente um projeto de lousa.
Raul Medina-Mora, o consultor educacional por trás da idéia, insiste que ela não surgiu de uma paixão por lousas digitais. É uma forma prática e com boa relação custo-benefício de fazer com que alunos de 10 e 11 anos permaneçam na escola.
Quando passarem para o segundo grau, seu progresso será acompanhado ano a ano, e serão a primeira geração de crianças mexicanas a ter desfrutado de uma educação digital.
Até o final de 2008, devem ser concluídas 185 mil turmas, o que modificará o ensino, a aprendizagem e o currículo de 5 milhões de crianças e 200 mil professores.
Por isso, o Enciclomedia é considerado o maior projeto interativo de turma escolar do mundo.
"Estamos projetando uma nova forma de aprendizagem em sala de aula, que inclui crianças e professores num espaço de ensino radicalmente projetado", diz Medina-Mora.
Ele é contratado pelo Instituto Latino-Americano da Comunicação Educacional (ILCE) para representar internacionalmente o projeto e estabelecer parcerias com outros países.
As mudanças são na sala de aula e não no currículo, diz ele, pois aprender é um "fenômeno social". "Não nos concentramos no indivíduo, mas na turma escolar."
"Sabemos também que aprender é uma experiência multissensorial. A sala de aula precisa ser divertida novamente. Aproveitamos a tecnologia para aprimorar o processo de aprendizagem por meio da multimídia. Temos que ser melhores que a televisão e o Nintendo, pois são com eles que competimos", diz.
Apesar do desafio ser grande, o México deu a partida com uma vantagem significativa - o governo é quem publica o currículo escolar.
Enquanto os mentores da política de Tecnologia da Informação e da Comunicação no Reino Unido estiveram preocupados em instalar tecnologia, treinar professores e ajudar a estimular o conteúdo para enriquecer a experiência online, o governo mexicano já tinha o ás do baralho: o currículo.
Os professores já usavam os materiais que o governo queria que usassem.
Foram contratados designers para digitalizar o currículo inteiro e ilustrar os tópicos com fotos, trabalhos de arte, filmes, trilhas sonoras e animações, numa cadeia de multimídia. O propósito foi dar vida a novos e antigos mundos para professores e alunos.
A rápida criação de uma plataforma de tecnologia de tal magnitude resultou no desenvolvimento de relações com outros países, organizações e fornecedores.
Quando representantes do governo mexicano chegaram à feira de tecnologia Bett 2007, realizada em janeiro, no Olímpia de Londres, foram recebidos por velhos amigos de organizações do Reino Unido.
Eles fecharam um dos maiores acordos com a Microsoft, para a sua enciclopédia Encarta, e outras transações com fornecedores de conteúdo estão sendo pesquisadas.
A tarefa é enorme e abrange a produção mundial de lousas digitais, cabeamento e comunicações. "O México tem uma topografia e uma geografia complexas", diz Medina-Mora. "Existem duas grandes cadeias de montanhas, com picos de 5 mil metros."
As lousas digitais estão sendo instaladas em salas de aula onde antes não havia nem teto e em comunidades nas quais não existem estradas adequadas.
E apenas um pequeno número de escolas não tem a infra-estrutura necessária. Depois, há uma série de línguas e dialetos no país, que descreve a si mesmo como "pluricultural".
Treinar os professores é outro desafio, mas a necessidade é diminuída pelo fato de o currículo ser o mesmo e de que a motivação para a mudança é maior no México do que, digamos, no Reino Unido.
A avaliação inicial dos estudantes antes e depois da implantação do projeto - um período de seis meses - mostrou um aumento médio nas notas de 1,68 em favor da Enciclomedia.
Mas os melhores efeitos virão com os resultados da nova plataforma digital do México para o ensino de inglês, algo que sempre foi considerado difícil.
"Tivemos que convencer as crianças de que não apenas é possível, mas também divertido aprender inglês e vamos iniciá-las no estudo da língua ainda bem pequenos." As indicações do primeiro piloto estão parecendo boas. Data: 12/03/2007
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