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Biodiesel: Especialistas temem seqüelas ambientais

Etanol é um combustível limpo, mas o possível aumento de queimadas e da monocultura preocupa estudiosos

Considerado um combustível limpo, o etanol ainda enfrenta restrições de ambientalistas quanto a seu processo de produção.

Estudos internacionais, como da WWF (Word Wildlife Fund), revelam os impactos ambientais dos canaviais, em especial com as queimadas, na época da colheita da cana.

O professor de engenharia e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Francisco Alves avalia que o ciclo do etanol criará um cenário assustador entre 2007, 2013 e 2025, no mesmo ritmo dos novos investimentos.

— Será uma expansão grande da monocultura. Os canaviais aumentarão nas regiões onde já estão, como São Paulo, Triângulo Mineiro, Goiás e Mato Grosso do Sul. No segundo momento, para consolidar a previsão de produzirem 104,5 bilhões de litros de álcool, a cana ocupará as áreas onde está a soja, o Cerrado e a Amazônia, em 17 milhões de hectares. A soja, por sua vez, expulsará o gado, que invadirá as áreas de florestas. Sai a madeira, entra o gado, e depois vem a agricultura. No Brasil, é a forma como a terra é barateada e como as áreas de florestas vão se extinguindo — afirma Alves.

Um dos estudos de Alves mostra aspectos negativos da cana. Os principais são: o fim da diversidade de espécies, a alta taxa de resíduos como o vinhoto, cujos efeitos são lesivos para os rios, o fim das reservas legais de matas e mananciais e os efeitos da queima para a saúde humana, além da fuligem no ar, que suja as cidades.

— Para cada litro de álcool produzido são gerados 12 litros de vinhoto, muito rico em material orgânico e que acaba sendo destinado à fertilização da planta.

Mas o fato é que esse vinhoto é excessivo e já tem destruído lençol freático e aqüíferos. Faltam pesquisas que mostrem a quantidade suportável de lançamento do vinhoto — afirma.

Coordenador de Direito à Alimentação da ActionAid no Brasil, Celso Marcatto ressalta a importância no incremento de produção de um combustível que emita menos gases poluentes na atmosfera — principal atrativo do etanol no mercado internacional, de acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Mas afirma que é preciso evitar que o país se transforme numa concentração de monoculturas (soja, eucalipto e cana-deaçúcar), chamadas de desertos verdes. Ele se preocupa com a tendência de que a produção de etanol acabe removendo agriculturas tradicionais do país.

— A monocultura, por si só, já é destrutiva. A tendência é que o crescimento se dê no que eles (usineiros) chamam de pastagem degradada. Para os ambientalistas, no entanto, essa é uma área de regeneração de floresta.

O etanol, que é limpo em sua emissão, precisa ser limpo também em sua produção — disse Marcatto.

Queimadas põem em risco saúde de moradores
Pesquisa mostra incidência de doenças respiratórias


As queimadas são as principais reclamações dos moradores urbanos próximos aos canaviais, por causa da fuligem dos efeitos pulmonares. Com mecanização, o problema minimizado, mas os pesquisadores afirmam que a situação está muito distante da ideal temem um retrocesso maior com o “ciclo do etanol”.

Uma pesquisa do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP, publicada em 2005, mostra que o aumento das concentrações de gases tóxicos na atmosfera afetará o meio ambiente tornará mais dramática a saúde da população que vive no entorno das regiões produtoras.

O pesquisador Fábio Silva Lopes comprovou uma incidência maior de doenças respiratórias em regiões de queimadas em culturas canavieiras.

De janeiro de 2000 a dezembro de 2004, a pesquisa verificou, em 645 municípios do estado, que foram realizadas mais de 22 mil internações ao ano por problemas respiratórios.

Ao mesmo tempo foram detectados mais de três mil focos de queimadas ao ano no período. Os dados referem-se a 645 municípios do Estado.

Queimadas esterilizam o solo, diz especialista O presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Eneas Salati, explica que a queimada destrói matéria orgânica sob solo, alternando a estrutura química da terra.

— Na parte superficial, o solo praticamente se esteriliza.

problema se torna ainda mais sério quando o fogo escapa do canavial e pega áreas de floresta.

Em São Paulo, elas não existem mais. E quando acaba a floresta, aniquila-se também mamíferos e insetos que vivem ali — disse Eneas Salati, que vê ainda outro efeito destrutivo nas queimadas: — Está se jogando energia fora. Existem pesquisas avançadas que mostram que a celulose da cana pode ser transformada em etanol.

Uma das fundadoras do Fórum Social Mundial e autora de cadernos de formação sobre Organização Mundial do Comércio (OMC), Maria Luisa Mendonça lembra que, entre julho e agosto de 2005, foi decretado estado de alerta nas regiões dos canaviais paulistas porque as queimadas reduziram a umidade relativa do (13% e 15%). Foram 287 focos de queimada. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) defendeu uma "moratória da queima". Mas a situação não foi contornada, afirma. Para 2007 o impacto pode ser maior, em São Paulo entre julho agosto principalmente, por causa do aumento da produção.

As usinas alegam que não podem fazer reduções radicais nas queimadas porque teriam que mecanizar mais a lavoura cortar mão-de-obra.


Data: 19/03/2007