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O Brasil precisa tomar atitudes sobre ambiente, diz cientista-chefe do governo britânico

Grã-Bretanha delineia plano para cortar emissão de gases-estufa e parte para cobrança dos outros países - inclusive do Brasil. O cientista-chefe do governo britânico, sir David King, é um dos principais articuladores para a inclusão da questão climática na agenda política mundial.

Conseguiu que a Grã-Bretanha e a Europa assumissem metas de redução de emissão de gases-estufa mais ambiciosas do que estabelece o Protocolo de Kyoto e agora parte para a cobrança de outros países.

Leia entrevista com o cientista:

- O próximo relatório do IPCC fala sobre vulnerabilidade. Quão vulnerável é a Grã-Bretanha?

Os principais problemas virão de enchentes e ataques costeiros. Já têm-se observado chuvas mais intensas, e os sistemas de drenagem são incapazes de drenar a água, o que leva a enchentes. Temos de reinventar esses sistemas. A partir de um relatório que produzi, o governo começou a agir.

- Essa é uma situação parecida com a de São Paulo. Países desenvolvidos deveriam transferir tecnologias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas para os países em desenvolvimento, mas isso não tem sido feito. Por quê?

Há vários problemas, mas tivemos muitos progressos. Por exemplo, para construir um programa que evite enchentes e intrusões marítimas, trabalhei com centenas de engenheiros e cientistas. O conhecimento pode ser passado a outros países e estamos trabalhando agora com a China. Mas você pode fazer a mesma pergunta sobre outros processos da Convenção do Clima. O quão longe fomos com Kyoto? Países desenvolvidos já deveriam produzir resultados. Então temos de focar o diálogo dentro do G-8+5. É mais fácil que os líderes dessas nações tomem decisões que mantenham as premissas da COP.

- Então quais foram os resultados da presidência de Blair no G-8?

Em nosso mandato, produzimos uma declaração conjunta (sobre mudança climática) que indica intenção, não ações. Está muito claro que o diálogo no G-8+5 precisa continuar. Não é segredo que nem todos os países são entusiastas, mas acho que isso está mudando. Se não conseguirmos um acordo no G-8+5, não sei se conseguiríamos em qualquer outro lugar.

- Como conseguir esse acordo?

A Grã-Bretanha assumiu naturalmente a liderança: reduziremos nossas emissões em 60% em 2050, pressionamos a União Européia a tomar atitudes e, na semana passada, chegamos a um acordo de uma redução de 20% até 2020. Agora falamos com outros países e dizemos: "É isso que estamos fazendo. O que você faz?". Não falamos o que os países devem fazer e quando. Qualquer negociação formal é difícil, então tomamos a dianteira.

- O Brasil deve assumir metas?

O Brasil precisa tomar atitudes. Na Grã-Bretanha, buscamos limitar o dióxido de carbono em um limite entre 450 e 550 ppm. Essa é nossa meta. Acho que será muito útil que outros países digam quais são suas intenções. Nós dizemos a nossa e chegamos ao governo brasileiro e perguntamos: "Qual é sua intenção? Quais objetivos você acha que devem existir para este século?".

- O sr. já fez essas perguntas para o governo brasileiro?

Sim.

- E qual foi a resposta?

Espero descobrir amanhã (hoje).

- Ainda há tempo para ações de mitigação?

É tarde demais para escolher entre ações de mitigação ou de adaptação. Precisamos fazer ambos. O setor político quer focar a mitigação. Só quando se vêem os custos de ambos, pode-se escolher o caminho adequado.

- A Convenção de Clima falhou em evitar interferências perigosas no sistema climático?

Sim. As mudanças perigosas já acontecem. Um exemplo é a onda de calor que atingiu a Europa em 2003: 32 mil pessoas morreram e estávamos totalmente despreparados. O tempo passou. O que buscamos agora é evitar catástrofes.


Data: 29/03/2007