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Novo sistema reforça aula virtual

Aliando TV, internet e telefone celular, projeto amplia a participação de estudantes em cursos a distância

 

Por mais que a tecnologia avance, ainda não há software capaz de obrigar um aluno a quebrar certos valores culturais e dispensar a figura paternal de um professor no processo de aprendizado - aquele sujeito que incentiva e cobra a busca por conhecimento, modelo que prevalece desde os tempos da Academia de Aristóteles.

 

Há quatro anos, o professor Renato Bulcão se debruça sobre a questão na Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP) e, de olho na grande demanda por conteúdo que será criada com a implantação da TV digital no País, desenvolveu com as empresas Ibis Inteligent Business Solutions, de Campinas (SP), e Lector Teconologia, de Blumenau (SC), um sistema que une televisão, internet e telefone celular num ambiente que revoluciona as aulas via satélite.

 

"Verificamos que há uma resistência muito grande entre os alunos à passagem da aula presencial para a aula a distância. Principalmente porque os alunos são crianças e jovens cada vez mais acostumados com o uso sofisticado do computador, uma familiaridade que vai muito além da que professores e desenvolvedores, muitos na faixa dos 40 aos 60 anos, têm com a tecnologia", diz Bulcão. "É por isso que programas de ensino parecem pouco interessantes, enquanto games parecem incríveis."

 

O projeto será demonstrado amanhã, pela primeira vez, no seminário da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), que reúne em Recife 500 profissionais de todo o País. O evento começou ontem e vai até quarta-feira.

 

Computador básico, TV, webcam, mesa de edição simples e acesso a internet em banda larga são os equipamentos necessários para estruturar a aula. E as possibilidades para montar cursos são muitas.

 

Passeio virtual

 

Com o sistema, um professor de história pode acessar na mesma hora o site de um museu e até guiar os alunos numa visita virtual, deixando mais claro o tema sobre o qual está falando.

 

Outro professor que esteja ministrando um curso de cinema pode acessar o site YouTube e, ao vivo, apresentar determinada cena do filme sobre o qual está explicando. No curto prazo, o aluno ainda poderá baixar essas cenas, com as marcações explicativas feitas pelo professor.

 

O sistema permite ainda que, se o aluno estiver acompanhando a aula pela internet no momento em que está sendo ministrada, pode usar um ícone na tela e "levantar a mão" virtualmente para fazer pergunta ao professor. Outra possibilidade é assistir aulas gravadas.

 

Com uma webcam simples, esse aluno poderia também aparecer ao vivo para os colegas virtuais. E se ele estiver estudando por meio da TV a cabo, poderá usar o próprio controle remoto para interagir ou o telefone celular, por meio de mensagens de texto, tipo SMS.

 

Os desenvolvedores já trabalham numa nova ferramenta, que vai possibilitar uma outra maneira de participação do aluno por telefone, com voz em vez de mensagens de texto. Com isso, a idéia é conquistar o estudante, dando a ele várias oportunidades de participar ativamente da aula.

 

"O professor pode lançar uma questão para a turma, de múltipla escolha. Quando os alunos responderem, ele terá na sua tela um gráfico que aponta os erros e os acertos da classe. Com isso, ele tem uma resposta imediata sobre o aproveitamento dos alunos e pode decidir se segue com a matéria ou se repassa algum ponto que ficou incompreendido", observa o engenheiro Ricardo Pessoa, sócio da Ibis, que trabalha no desenvolvimento da tecnologia.

 

"Ensino a distância se faz há muito tempo. Mas o modelo em que o conteúdo está lá esperando que os alunos vão interagir não funciona bem porque todo mundo quer um professor dando aula."

 

Segundo a Abed, há hoje no País cerca de 90 canais universitários. Eles apresentam documentários e todo tipo de conteúdo gerado em caráter experimental por alunos, mas nenhum deles usa a grade com programas de ensino a distância.

 

O foco do projeto Escola do Futuro está nesses canais, mas a tecnologia pode ser usada por empresas que queiram treinar funcionários ou até mesmo pequenas comunidades que possuem um canal de transmissão.

 

No caso de instituições de ensino privadas, o projeto se mostra vantajoso: segundo os desenvolvedores, uma instituição que decida criar 2 mil vagas pode economizar até R$ 5,4 milhões em investimento em infra-estrutura. "Isso é basicamente o que gastaria para abrir espaço a 2 mil alunos em salas de aula", diz Pessoa.


Data: 02/04/2007