topo_cabecalho
O clima está quente, sujeito a enchentes e furacões, mas ainda há tempo para agir

Dois dias antes da divulgação de novo relatório do IPCC sobre impactos das mudanças climáticas, organização se manifesta e engaja o público na luta contra o aquecimento global

Às vésperas da divulgação do relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) sobre os impactos das mudanças climáticas, o Greenpeace usou a praia de Copacabana para alertar os brasileiros sobre o problema e para lembrar que ainda há tempo de salvar o planeta.

Uma bóia salva-vidas de 15 metros de diâmetro flutuou nas águas da Zona Sul da capital carioca com a mensagem "S.O.S Clima". Na praia, uma faixa de 40 metros, simulando uma régua de medição do nível da água foi estendida na areia. Nela, a frase: "Ainda há tempo".

O RJ é uma das cidades brasileiras mais vulneráveis à elevação do nível do mar, um dos impactos do aquecimento global.

Os resultados do segundo grupo de trabalho do IPCC serão divulgados nesta sexta-feira (6/4), em Bruxelas, na Bélgica. O documento deverá aprofundar dados sobre os impactos das mudanças climáticas ao redor do mundo.

De acordo com estudos do Ministério do Meio Ambiente, 42 milhões de pessoas podem ser afetados com a elevação do nível do mar no Brasil.

Na região metropolitana do RJ, maior concentração urbana costeira do país, as previsões mais pessimistas indicam que, até 2100, o aumento do nível do mar engolirá calçadões da orla, ameaçando casas e prédios à beira-mar.

Além disso, tempestades e ressacas no litoral fluminense serão mais freqüentes e fortes. As conseqüências mais graves deverão ser sentidas daqui a 100 anos, quando o mar poderá estar 50 centímetros mais alto e o aumento da temperatura poderá chegar aos 4º C.

"O governo brasileiro deve responder ao aquecimento global adotando uma Política Nacional de Mudanças Climáticas e o controle do desmatamento da Amazônia como prioridades", afirma Rebeca Lerer, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace.

"Esta política nacional deve preparar o país para lidar com os impactos das mudanças climáticas, tais como a elevação do nível do mar na costa brasileira, o avanço da desertificação no semi-árido e a savanização da Amazônia".

Amazônia, vítima e vilã

Atualmente, o Brasil é o quarto maior emissor de gases estufa do planeta. Mais de 70% das emissões são provenientes do desmatamento da Amazônia.

Segundo dados do governo brasileiro, nos últimos dois anos o desmatamento caiu de 26 mil quilômetros quadrados (2003-2004) para aproximadamente 14 mil quilômetros quadrados (2005-2006).

Para o Greenpeace, a queda é importante e mostra que medidas de governança - como criação de áreas protegidas e operações de fiscalização no campo - estão surtindo efeito.

"No entanto, só poderemos celebrar quando os fatores estruturais que levam ao desmatamento - como o agronegócio voltado para a exportação - não destruírem mais um hectare que for da floresta e derem lugar a um modelo de desenvolvimento sustentável, no uso responsável dos produtos florestais e na conservação deste que é o maior patrimônio ambiental dos brasileiros", disse Paulo Adário, coordenador da campanha do Greenpeace pela proteção da Amazônia.

A Amazônia também é uma das regiões brasileiras mais vulneráveis aos impactos do aquecimento global. De acordo com um estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial) divulgado em fevereiro, um aumento médio da temperatura global de 3C pode representar um aumento de 5C a 8C na região amazônica.

O cientista do Inpe, Carlos Nobre, alerta que, se forem mantidos a progressão e o cenário atuais de desmatamento, uma parte significativa dos 6 milhões de quilômetros quadrados que compõem a floresta amazônica deverá ter se transformado em cerrado mais pobre, em um período que pode variar de 50 a 100 anos.

Ainda como parte do protesto, para informar a população carioca sobre o problema, um grupo de voluntários do Greenpeace montou uma barraca e distribuiu informações ao público na praia e no calçadão.

"Queremos mobilizar o maior número possível de pessoas na luta contra o aquecimento global. Estamos distribuindo informações e dando dicas práticas de combate ao aquecimento", disse Rebeca Lerer. "As mudanças climáticas afetam a todos e por isso precisamos mudar a forma como vivemos hoje para evitar este problema. Ainda há tempo!".



Data: 04/04/2007