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Debate sobre como abrandar aquecimento global será acirrado

IPCC volta a se reunir no fim do mês na Tailândia para discutir medidas de mitigação. O Brasil será cobrado pelo desmatamento da Amazônia. Camponeses chineses plantam árvores para tentar combater um efeito do aquecimento global

Uma vez provada a culpa do homem no aquecimento e analisados os impactos sobre o planeta, além das vulnerabilidades e das estratégias de adaptação, o debate sobre o clima passa à fase das ações de mitigação.

Entre 30 de abril e 3 de maio próximos, o Grupo de Trabalho 3 do IPCC se reúne em Bangcoc (Tailândia) para debater o que pode e precisa ser feito para reduzir as emissões de gás carbônico na atmosfera.

No relatório do grupo 2, divulgado em Bruxelas anteontem, o IPCC adverte que, mesmo num cenário de restrição das emissões, os impactos das mudanças climáticas ainda serão sentidos.

Isso significa que, sem mitigação, a situação é potencialmente bem catastrófica a longo prazo, como mostraram os cenários mais pessimistas divulgados pelos pesquisadores.

Pelos números que o IPCC publicou em fevereiro, para evitar o pior cenário possível em 2100 -um aumento maior que 4,5ºC na temperatura média global-, a humanidade precisa cortar pela metade a emissão de gás carbônico prevista para esse século.

Uma versão preliminar do relatório do grupo 3 obtida pela Folha mostra que os cientistas já estimam como evitar a emissão de até 40 bilhões de toneladas de gás carbônico até 2030.

Uma das idéias básicas é que as mudanças não podem ser apenas na política de geração de energia: indústria, agricultura e edificações [residências e comércio] vão precisar colaborar. Políticas para aumentar a eficiência do uso da energia também serão essenciais.

Outro ponto, mais controverso, é que as melhores oportunidades para cortar emissões estão nos países em desenvolvimento, já que sua infra-estrutura não está em construção. Nesse caso, a pressão será maior contra o Brasil e a China, principalmente.

Mais cobranças

Os ambientalistas prevêem que Bangcoc terá disputas ainda mais acirradas entre cientistas e políticos, já que os países serão cobrados por medidas para reduzirem suas emissões.

"Vai ser pior do que a reunião de Bruxelas", diz Karen Suassuna, técnica de mudanças climáticas do WWF Brasil.

"Energia, consumo de carvão, gás, petróleo e desmatamento estarão na pauta. E, apesar de o Brasil estar tranqüilo a curto prazo, na área de desmatamento vai haver cobrança, porque será o que a ciência acha que tem de ser feito para mitigar."

A derrubada da Amazônia é o que tem peso maior nas emissões brasileiras. Mas há também o bloco dos otimistas, como a brasileira Thelma Krug, uma das líderes do IPCC para inventários de gases do efeito estufa.

"O relatório de mitigação vai trazer muitos exemplos do Brasil, mostrar que não estamos de braços cruzados", diz Krug.

"Coisas que o país já fez e a importância que isso teve em reduzir emissões. Alguns dos capítulos do documento colocam o Brasil numa posição de muito destaque."

Não que as ações brasileiras de mitigação -como o uso de biocombustíveis- tenham tido origem em preocupações climáticas, muito pelo contrário. A questão aqui foi de cunho essencialmente econômico.

"Certamente não fizemos isso por causa da mudança do clima, mas muita coisa que os demais países estão fazendo também não são, ninguém pode ser hipócrita de dizer o contrário", disse Krug.

Do grupo que vai elaborar o terceiro relatório participam os brasileiros Roberto Schaeffer, economista da UFRJ (Universidade Federal do RJ) e a engenheira Suzana Kahn Ribeiro, que também é da mesma instituição carioca.

O encontro de Bangcoc será sucedido por outro em Valência (Espanha), de 12 a 16 de novembro próximo, de onde saíra um relatório síntese dos três outros apresentados neste ano.

Antes de 2007, a última série de documentos do IPCC sobre o clima do planeta havia sido publicada em 2001. (MAC)

Estudo cobra novo padrão de uso da energia

Em tempos de mitigar os efeitos negativos da mudança do clima, a construção civil é um setor que pode dar uma colaboração muito grande, segundo relatório divulgado na semana passada pelo Pnuma, o braço ambiental da ONU.

Segundo o documento, uma combinação adequada entre legislação, uso disciplinado de energia e o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes do ponto de vista energético poderá reduzir de forma substancial as emissões do setor da construção civil.

Hoje, esse segmento usa 40% de toda a energia gerada no planeta.

Os cálculos feitos pelo Pnuma para o continente europeu dão conta da grande dimensão do problema. "Com um novo padrão de uso da energia será possível reduzir em um quinto o consumo energético por parte da construção civil", aponta o estudo.

Essa redução seria equivalente a uma diminuição de 45 milhões de toneladas de gás carbônico por ano. Para os autores do texto é viável pensar nisso já a partir de 2010.

Para a Agência Internacional de Energia, a simples troca das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, em todo o mundo, contribuiria com quase metade das metas do Protocolo de Kyoto.


Data: 09/04/2007