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Estudo mostra como o câncer progride

Formação de novos tumores, a partir do foco inicial da doença, é causada por um grupo de quatro genes, diz estudo

Um dos caminhos para o combate ao câncer é evitar que os tumores secundários, chamados pelos médicos de metástases, se formem. Com os resultados científicos apresentados hoje na revista "Nature" essa via de acesso, por onde podem entrar os medicamentos, está definitivamente aberta.

Cientistas liderados pelo pesquisador Joan Massagué, do Instituto Médico Howard Hughes, dos Estados Unidos, conseguiram identificar um grupo de quatro genes responsável por carregar as células doentes do tumor inicial para as metástases.

A pesquisa, feita em cobaias, identificou principalmente o espalhamento das células cancerígenas entre o câncer de mama e o pulmão. "É totalmente possível que isso ocorra em outros tipos de câncer. Nós precisamos achar isso agora", disse Massagué à Folha.

Para o cientista, catalão de nascimento, "é o tempo agora que vai dizer" se esses processos são universais. "Nós estamos estudando isso em outros tipos de câncer que também invadem o pulmão, como o câncer de cólon", explica.

Pegando carona em estudos feitos anteriormente, como sempre ocorre na ciência, o grupo de pesquisa americano fez várias experiências com os quatros genes.

Quando apenas um deles foi desligado, tanto o desenvolvimento do tumor primário quanto o da metástase presente no pulmão do rato tiveram apenas uma pequena redução de tamanho.

A situação se alterou bastante quando pares de genes foram inativados pelos pesquisadores. Nesse caso, a progressão dos dois tipos de tumor foi mais lenta do que o normal.

Mas, ao desligar os quatros genes ao mesmo tempo, os cientistas perceberam que a velocidade da progressão do câncer não diminuiu.

Em compensação, a anatomia do câncer é que mudou. Como resultado disso, houve a formação de pequenas metástases apenas.

"Na verdade, alguns genes estão envolvidos com o desenvolvimento de novos tumores, outros, especificamente, promovem a disseminação dessas células cancerígenas para outros órgãos. Mas, esse grupo de quatro genes parecem que são requisitados para os dois processos", disse Gerhard Christofori, pesquisador da Universidade de Basel, na Suíça, que comentou o trabalho do grupo americano na "Nature".

Foco clínico

Os cientistas liderados por Massagué foram um pouco mais adiante. Com base em drogas que já existem no mercado os pesquisadores resolveram montar um coquetel de dois remédios para aplicar nos ratos. Já se sabia que cada uma delas agiam contra os genes, de forma individual.

O resultado, como era esperado por causa dessa nova descoberta, foi positivo. Os medicamentos fizeram efeito sobre os tumores.

"Nossos dados abrem um caminho sólido o suficiente para garantir que sejam feitos testes em pacientes. Precisamos, porém, saber os resultados desse testes para saber o quanto significativo eles serão em relação à quimioterapia convencional", disse Massagué.

Na mesma edição da "Nature" um outro grupo de pesquisa, da Universidade do Sul do Texas, publicou um trabalho que envolve 87 genes. Quando eles foram desligados, as drogas usadas normalmente nas quimioterapias funcionaram com mais eficiência.

Em alguns casos, como no câncer de pulmão, o remédio pode ser aplicado em quantidades até mil vezes menor.

Além de obter uma via direta para o combate ao tumor, os cientistas também trabalham com a hipótese de conseguir reduzir os desgastes do processo quimioterápico.

A pesquisa feita no Texas ajuda a entender também porque algumas drogas funcionam bem contra certos tumores, mas apresentam um resultado pífio contra outros. Nesses casos é que os médicos precisam aumentar a dose e, portanto, correrem mais riscos de o paciente ter efeitos colaterais.


Data: 12/04/2007