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"Virada para etanol é irracional", afirma pesquisador

Sérgio De Zen considera precipitada a migração da pecuária para a cana e teme pela economia a longo prazo

A febre do etanol, considerada a maior transformação econômica na área agrícola dos últimos tempos, aquece o ânimo dos produtores rurais. Mas seu impacto no futuro já traz grandes preocupações para os especialistas.

"Temo muito pelo que pode acontecer. Essa mudança econômica beira a irracionalidade", diz Sérgio De Zen, pesquisador do Centro de Pesquisa e Estudos em Economia Aplicada (Cepea/USP), especialista em pecuária de corte e de leite.

Para De Zen, são reais as vantagens da cana sobre a pecuária, mas ele insiste.

"Essa é uma fotografia de momento. Acho que falta uma observação de médio e longo prazos. Ninguém pode garantir os atuais preços da cana por longos períodos. Temo que algumas contas possam ser influenciadas pelo entusiasmo deste momento."

Mudanças no campo são normais, mas nada se compara com o que ocorre em relação ao etanol em SP.

Parte
considerável do capital externo que irriga a economia brasileira chega para comprar áreas cada vez mais caras, financiar o plantio de cana e adquirir usinas de açúcar e álcool num ritmo jamais visto.

Em seis safras, o investimento na região Centro-Sul em novas unidades de esmagamento e processamento de cana atingirá US$ 14,6 bilhões.

São pelo menos 73 novas usinas, sem contar aquelas ainda em estudos.

Mesmo
assim, De Zen considera prematuro decretar o fim da pecuária paulista. A estrutura criada para a produção de gado nos 10 milhões de hectares que existem de pasto em SP não deverá ser largada de vez.

'Isso não deverá ser abandonado do dia para a noite', afirma.

Quem vive no setor afirma que a elevação do preço da terra conduz a pecuária a um nicho. Melhoramento genético ou criação em regime de confinamento, em áreas menores.

Nesse caso, a pecuária vive um momento de profunda transformação.

A chamada pecuária extensiva, organizada em grandes extensões de terra, migra agora para Mato Grosso, Tocantins, para a fronteira agrícola que ameaça o bioma amazônico ou pantaneiro.

Dessa forma, o etanol, que em todas as contas aparece como alternativa econômica viável para o mundo - na corrida pela substituição do combustível fóssil -, converte-se numa ameaça ambiental.

André Pessôa, diretor da Agroconsult, acha que a pecuária comercial em grandes áreas vai mesmo desaparecer em SP. Também concorda com a concentração da atividade em nichos mais rentáveis, mas não considera isso um desastre.

"Os pecuaristas estão trocando a pecuária pela cana atrás de uma cultura mais eficiente e rentável? Que ótimo!"


Data: 16/04/2007