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Opinião - UFCG: 5 anos de existência (parte I)

Wagner Braga Batista

Professor da UFCG

 

 

A Universidade Federal de Campina Grande completa cinco anos.

 

Criada em abril de 2002, é fruto de longo e truncado processo de discussão que teve início em meados da década de 70. Seu projeto e sua implantação podem ser atribuídos a diferentes fatores e protagonistas. Um amplo de espectro de forças, de injunções e de interesses díspares marcou o processo de desmembramento da UFPB, que deu origem à UFCG. Essa conjunção de fatores expressou-se em diferentes conjunturas com  formulações e com ações igualmente diferenciadas, mobilizando parte expressiva da sociedade local e da comunidade universitária para a realização desse objetivo.

 

A campanha pela criação da UFCG encontrou motivações nitidamente acadêmicas, como também meramente provincianas. Dentre os interlocutores que se pautaram pela defesa de preceitos acadêmicos, sem demérito dos demais, cabe destacar os professores Mario Araújo Filho e Thompson Mariz, atual Reitor.

 

A campanha, em duas oportunidades, em 1979 e em 1995, privilegiou articulações externas que tiveram ressonância na universidade de forma às vezes hostil. Contudo, apesar de seus vícios de origem e das tentativas de sufocar a discussão na comunidade universitária, especialmente através da convocação unilateral de plebiscito, artifício para viabilizar iniciativa do poder executivo ou parlamentar, o debate se ampliou. Envolveu professores, alunos e funcionários e, finalmente, foi realizado em todos os Órgãos de Deliberação Superior, abrindo espaço para a interlocução de  oponentes e para decisão democrática nessas instâncias da UFPB.

 

Após essa decisão, onze anos se passaram. Houve mudanças no projeto original e na postura de seus formuladores, até a criação da UFCG, em 10 de abril de 2007.

 

Essa trajetória deve ser estudada. Não como saudosismo ou como tentativa de recuperar inconsistências de qualquer parte. Como franco opositor do processo de desmembramento, reconheço que se tornou um fato consumado, porém inusitado. Graças as suas particularidades, já no momento presente, constitui um rico legado de experiências que examinadas amiúde traduzem dificuldades e avanços no processo de implantação de uma universidade pública em região periférica.

 

Em seus percalços, oferece orientações para a criação de instituições públicas de ensino superior em situação similar. Faço votos de que muitas outras sejam criadas.

 

Numa entrevista recente, Chico Buarque afirmou que fazia do exercício da memória um acervo de boas lembranças, procurando não ser nostálgico, viver mergulhado no passado.

 

A dinâmica da realidade é controversa, com avanços e retrocessos, não conduz necessariamente a uma situação desejada. No jogo de forças sociais prevalecem projetos que encontram condições mais propícias a sua realização. Não são muitas das vezes os mais adequados, os mais justos. Contemplam demandas sociais, beneficiam-se de circunstâncias e forças favoráveis, portanto tornam-se factíveis.

 

Aqui cabe uma ressalva. A História é menina arisca, não é fiel aos compromissos firmados em seu nome. A História não passa recibo aos que os formulam projetos e fazem prognósticos utilizando-se de seu aval. A História não oferece garantia nos desenlaces futuros. É grande a margem de imponderabilidade nos desfechos históricos.

 

Esse pressuposto serve como balizamento e como móvel das considerações a seguir.

 

Argumentaremos que a atual UFCG preservou seu caráter público e se configurou como universidade multicampi graças a uma nova conjuntura. Uma conjuntura mais permeável à influência da comunidade universitária e mais favorável à expansão do ensino público.

 

Por ironia do destino, a UFCG, em sua configuração atual, representa a antítese do seu projeto original. Na sua conformação prevaleceram argumentos conjunturais. Ou seja, os argumentos, desqualificados como frágeis e diversionistas, que advertiam para as conseqüências do desmembramento e do enfraquecimento da UFPB numa conjuntura adversa.

 

A que conjuntura nos referíamos?

 

Na década de 90, o Brasil vivenciava com atraso a restauração liberal. Em todas as esferas da vida social tornavam-se hegemônicos valores liberais que consagravam a livre iniciativa, a minimização do Estado e das políticas sociais, a privatização de espaços públicos, a busca de vantagens restritas, a competitividade, o empreendedorismo, entre outros.

 

Em nome da capacidade empreendedora e do gerenciamento eficaz, a nova tecnocracia investia pesado contra o caráter público e a função social de instituições modernas.

 

Essa ideologia tinha rebatimento de forma catastrófica no campo da educação, exprimindo-se por meio de uma teoria que tornava alardeava a qualidade total. Amparada em parâmetros contábeis, propugnava a educação como mercadoria, como sinônimo de elitismo e de restrições impostas pelo poder aquisitivo. Democratização do acesso tornara-se a oferta de vagas produzida pela vertiginosa expansão da rede privada. Atualmente responsável por cerca de 90% das instituições e 80% das matrículas do ensino superior.

 

Esse discurso sugeria que virtualidades da educação, de práticas cooperativas, da solidariedade, da gratuidade, da generosidade, teriam se tornado obsoletas. Como numa balança, atividades educacionais deveriam ser pesadas.

 

Aferidas pela sua rentabilidade. Suas possibilidades seriam avaliadas à luz da lógica de custos benefícios que instruía a idéia de “capital humano”. Sob esse viés, qualidade seria expressão de rentabilidade, de ganhos financeiros.

 

Nesse contexto, a UFCG foi defendida como uma universidade enxuta, modelada por um centro de excelência, o CCT.

 

Aí, a História nos pregou uma peça... Em todos nós, naqueles que se contrapunham a sua criação e nos que defendiam esse projeto. Falaremos disso a seguir.


Data: 16/04/2007