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China amplia punição para fraude acadêmica

Pressão para aumentar produção científica e número de mestres e doutores fez crescer plágios e falsificações


Nos últimos dias, o governo da China tomou duas medidas que, pelo rigor, assustaram a comunidade acadêmica. O Conselho de Estado anunciou um sistema de punições — com medidas que incluem o confisco de títulos acadêmicos ou a proibição de acesso a dinheiro público — para quem for flagrado usando recursos do Fundo de Ciências Naturais, que gira em torno de US$ 2,5 bilhões por ano, para realizar pesquisas fraudulentas.

Já a Academia Chinesa de Ciências (ACC) baixou regulamentação para coibir condutas consideradas inapropriadas em um dos pólos de pesquisa mais importantes do país.

Depois de um sem número de escândalos, o governo da China decidiu abrir os olhos para um fenômeno cada vez mais corriqueiro no elogiado projeto chinês de turbinar sua produção científica e dobrar o número de mestres e doutores em sua comunidade acadêmica:

as fraudes em projetos de pesquisa e desenvolvimento, que vão de produtos tecnológicos de ponta copiados a ensaios falsos sobre leis.

Recente estudo do Ministério da C&T da China, com 180 candidatos a PhD, mostrou que 60% não apenas admitem ter plagiado estudos de outros professores e mestres como revelam pagar propinas para ter seus trabalhos divulgados em importantes publicações científicas .

“Nos últimos anos, o mau comportamento científico na China vem mostrando uma preocupante curva ascendente”, disse o presidente da ACC, Lu Yongxiang.

No ano passado, o Ministério da C&T já havia anunciado um pacote de medidas contra as fraudes: “Numa tentativa de acabar com fraudes, corrupção e evitar o financiamento de projetos fictícios, decidimos criar uma legislação que transforma em crime as irregularidades nesta área”, afirmou Mei Yonghong, diretor do Departamento de Regulamentação do Ministério.

“A punição acadêmica maior será o afastamento do cientista dos projetos do governo pelo resto da vida.”

A comunidade científica da China é cada vez mais pressionada pelas autoridades para produzir trabalhos, teses, pesquisas e ensaios e, desta forma, tirar o país da desconfor tável posição de copiador para a de produtor de alta tecnologia.

Mas o resultado dessa pressão é um número cada vez maior de casos de plágio, falsificações e corrupção envolvendo professores e pesquisadores chineses, que estão em busca não apenas de prestígio e do financiamento público para seus projetos, como de indicação para um cargo na área científica do governo, uma simbiose bastante comum (e lucrativa) na China.

O caso mais retumbante de fraude científica — e vergonha nacional — é hoje a criação do primeiro chip de processamento de sinal digital (DSP, da sigla em inglês) 100% chinês, o Hanxin 1.

Em 2003, aos 35 anos e apenas três anos após retornar dos EUA com um PhD em engenharia da computação, Chen Jin se tornou uma espécie de celebridade da comunidade científica ao anunciar a criação do Hanxin 1.

Com isso, foi guindado ao cargo de professor e reitor da Universidade Jiaotong, de Xangai, onde seu laboratório de pesquisa passou a receber pesados financiamentos do governo chinês.

Mas após a denúncia de um assistente de Chen, o governo de Pequim descobriu boquiaberto que o chip era uma cópia do processador DSP56800E da Motorola (dizem que, no chip original chinês, o logo da Motorola foi grosseiramente apagado).

Chen perdeu todos os seus cargos, além de ter sido obrigado a devolver o dinheiro aplicado no projeto.


Data: 30/04/2007