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Não há sentido ecológico em investir em etanol de milho, diz presidente da Nestlé

Para Peter Brabeck, cultivo exige muita água

O presidente da Nestlé, Peter Brabeck, afirma ser contra a idéia do desenvolvimento dos biocombustíveis nos países ricos como forma de substituir energias fósseis.

O executivo da maior empresa de alimentos do mundo e líder no mercado de água tem uma explicação: o etanol feito a partir do milho, como ocorre nos EUA, exige muita água para sua produção, o que pode gerar outra crise no planeta bem mais grave que a falta de petróleo.

Em entrevista publicada no jornal suíço TagesAnzeiger, Brabeck não hesita em questionar o crescente investimento no etanol.

Para ele, a água é recurso natural bem mais valioso que o petróleo e alerta que uma crise de abastecimento poderá ocorrer em pouco mais de cem anos.

A Nestlé aposta no mercado de água como parte de sua estratégia de venda nos próximos anos e é líder mundial no setor.

O grupo é dono de marcas como Perrier e Vittel e procura oportunidades de negócios inclusive no Brasil. Neste ano, as vendas em todo o mundo devem superar os US$ 8 bilhões.

Brabeck aponta que vários locais de tensão geopolítica começam a surgir por causa da água, como no Oriente Médio. Somado a isso, destaca o fato de que, até 2050, a população mundial aumentará em 1,7 bilhão de pessoas, criando mais pressão sobre as reservas de água.

Para ele, "não há sentido ecológico em investir em etanol de milho" como solução.

"Para produzir 1 litro de bioetanol (a partir do milho) precisamos de 4,5 mil litros de água. Os donos de carros dos países industrializados são subsidiados à custa dos mais pobres."

Ele aponta que, nos últimos meses, o preço de 1 tonelada de milho passou de US$ 128 para US$ 335.

Brabeck, símbolo para os mais críticos da globalização e das multinacionais, adota postura não muito diferente do líder cubano, Fidel Castro, que já criticou o uso do milho para o etanol.

Na semana passada, a Agência Internacional de Energia e a ONU alertaram que o etanol de milho não será sustentável se depender "indefinidamente" de subsídios.

O presidente da Nestlé acusa o setor agrícola de ser um dos que mais desperdiçam água.

"Se a água tivesse um preço, incentivaria investimentos em infra-estrutura." Para ele, deveria haver regras de mercado para o uso da água entre agricultores e mesmo para manter uma piscina.

Na avaliação de Brabeck, o acesso à água deve ser considerado direito humano até certo ponto. O consumo de 25 litros por dia por pessoa seria suficiente. Na Europa, a média é de 50 litros. "Encher uma piscina não é um direito humano."


Data: 02/05/2007