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IPCC mostra caminho para curar o clima

Painel da ONU aponta as melhores estratégias e tecnologias para começar a reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Tecnologias já disponíveis, como o biocombustível ou a energia nuclear, poderão ajudar no corte do carbono em até 63%, a baixos custos

O mundo pode combater a mudança climática com as tecnologias existentes hoje, mas evitar seus piores efeitos exigirá uma ação imediata e custará até 2030 pouco menos de 3% do PIB mundial.

A conclusão é do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), que lançou ontem em Bangkok, Tailândia, o sumário executivo da terceira parte de seu Quarto Relatório de Avaliação, o AR4.

O documento de 35 páginas, intitulado "Mitigação da Mudança Climática", é endereçado aos formuladores de políticas públicas ("policymakers"). Ele lista as principais soluções para o problema de como reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa, em especial o gás carbônico (CO2).

Com ele, o IPCC encerra a mais completa radiografia já feita do maior problema ambiental da história.

"Agora os líderes mundiais já têm a ciência do aquecimento global [a primeira parte do AR4], conhecem seus impactos [a segunda parte] e sabem como atacar a questão", disse à “Folha de SP” Gavin Edwards, coordenador de Clima e Energia da organização ambientalista Greenpeace. "Só falta agir."

E agir rápido. De 1970 até 2004, mostra o relatório, as emissões dos gases que aprisionam o calor da Terra na atmosfera subiram 70%. Se nada for feito, em 2030 elas tendem a crescer de 25% a 90% em relação a 2000.

"O mundo definitivamente está no caminho do aquecimento", disse ontem o presidente do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri, no lançamento do relatório. "Se continuarmos a fazer o que estamos fazendo, teremos problemas sérios", completou o co-coodenador do Grupo de Trabalho 3, Ogunlade Davidson, que liderou a produção do sumário.

Por "problemas sérios" entenda-se aquilo que os cientistas chamam de "interferência perigosa" do homem no clima da Terra. Ela é expressa por um aquecimento em 2100 superior a 2C acima da média pré-industrial, o que teria efeitos catastróficos sobre ecossistemas e ainda nas sociedades.

Colocar o sistema climático dentro de um limite seguro de temperatura implicaria estabilizar as concentrações de CO2 na atmosfera em cerca de 450 partes por milhão – o dobro dos níveis pré-industriais –, afirma o IPCC. Para isso, os governos do mundo inteiro precisariam reduzir as emissões em 50% a 85% em 2050.

Para que isso aconteça, será necessário que as emissões globais atinjam seu pico e comecem a declinar logo: no ano de 2015.

"Como o carbono que emitimos perdura na atmosfera, é preciso fechar a torneira antes que a banheira transborde", disse o outro coordenador do relatório, Bert Metz.

Se o pico for adiado, o custo de trazer a curva para baixo aumentará muito. É preciso aproveitar, portanto, enquanto a humanidade aparentemente pode pagar a mitigação

"Isso vai ser um esforço hercúleo", pondera Branca Bastos Americano, do Ministério da C&T, membro da delegação brasileira na reunião do IPCC em Bangkok.

Kyoto acelerado

Quando expirar, em 2012, Kyoto terá conseguido reduzir, no máximo, 5,2% das emissões dos países industrializados (menos Austrália e EUA) em relação a 1990.

Um eventual substituto do protocolo teria de cumprir muito mais em apenas sete anos, contando com uma barreira adicional: mais de 60% do crescimento das emissões até 2030 virá de países pobres.

A boa notícia é que as soluções estão ao alcance da mão. As diversas opções incluem carros e eletrodomésticos econômicos, o uso de biocombustíveis, a energia nuclear e a redução do desmatamento.

O pacote todo pode cortar até 63% das emissões a um custo razoável (até US$ 100 por tonelada de CO2 abatida). A custo zero, é possível cortar 7 bilhões de toneladas (quase o que a humanidade emite por ano hoje).

No Brasil, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que quer terminar o plano nacional de enfrentamento da crise do clima em 90 dias. "Já há várias ações em curso. Não vamos começar do zero."

Já o ministro Sérgio Rezende (C&T) destacou a menção que o IPCC fez à energia nuclear como potencial "limpo". "A resistência a ela vem de alguns ambientalistas pouco esclarecidos", disse.


Data: 07/05/2007