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Salvar matas resolve 12% da crise do clima, dizem pesquisadores

Uma política dedicada de combate ao desmatamento no mundo --mesmo que não seja muito ousada-- pode evitar que 50 bilhões de toneladas de carbono sejam lançadas na atmosfera até 2100, ajudando a salvar o planeta do caos climático.

A estimativa, elaborada por uma equipe de pesquisadores brasileiros e americanos, indica que a preservação de florestas tropicais pode dar conta de 12% da redução de emissões de gases do efeito estufa necessária para evitar os piores efeitos da mudança climática.

Os criadores da proposta publicam suas contas em estudo no site da revista "Science" (www.sciencexpress.org). Mirando no ano-base de 2050, eles estimam que, para cumprir essa cota de serviço, o desmatamento global tenha de cair pela metade até lá.

"Nosso artigo é até muito conservador", disse à Folha o ecólogo Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa de Woods Hole (EUA), um dos autores do estudo. "Acho que podemos contemplar uma redução de desmatamento de mais de 50% na Amazônia, por exemplo, em cinco a dez anos."

O estudo põe números novos à conclusão do IPCC, o painel do clima da ONU, de que a redução do desmatamento tem um papel fundamental para estabilizar o clima da Terra.

Na semana passada, o IPCC divulgou um relatório no qual afirma que um freio ao desmate tropical pode reduzir quase 1 bilhão de toneladas de carbono por ano em 2040 a baixo custo.

Segundo o climatologista Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que também assina o trabalho, o número usado para as contas foi mantido em um patamar baixo de propósito.

"O corte de 50% é uma taxa arbitrária", diz o cientista. "Fizemos assim porque achamos que é perfeitamente factível todos os países conseguirem atingir esse índice."

De acordo com os pesquisadores, o Brasil pode combater o desmatamento de maneira mais fácil que outros grandes devastadores de florestas. O país tem uma vantagem por seu percentual do PIB atrelado a atividades que incentivam o desmate ser pequeno.

Grande parte do desmatamento vem de atividades como a pecuária, que têm dado pouco lucro, explica Nepstad. "Para combater incêndios florestais e reduzir a pecuária pouco lucrativa, que respondem pela maior parte das emissões, seria necessário cerca de R$ 2 bilhões por ano", diz. Dá menos de US$ 2 por tonelada de carbono que deixa de ir para o ar.

Como base de comparação, pode-se usar o preço da tonelada no mercado de carbono estabelecido pelo Protocolo de Kyoto de combate aos gases-estufa: cerca de US$ 20.

Na Ásia tropical, o cenário é diferente, devido à maior pressão econômica.

Para Nepstad, a política ideal para incentivar países a combater o desmatamento é criar fundos internacionais para compensar países que comprovarem a redução do desmate em seus territórios além de uma meta preestabelecida.


Data: 15/05/2007