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Perda da cultura é um dos principais problemas indígenas

A conclusão foi apresentada durante o último dia da II Oficina: Povos Indígenas - o Inpa e a comunidade, que reuniu pesquisadores e representantes de comunidades indígenas no Bosque da Ciência

Um dos principais indígenas, hoje, é o da perda da identidade cultural, ou seja, alguns grupos estão perdendo os costumes e as tradições.

Esse processo está acontecendo nas áreas do Javari, Juruá, Purus, mais precisamente no município de Lábrea e atingi, por exemplo, os tenharim, os parintintim e os diahoi.

As conclusões foram apresentadas pela chefe do Depto. de Pesquisa e Cultura da Fundação Estadual dos Povos Indígenas (Fepi), Maria Auxiliadora Cordeiro, durante o último dia da II Oficina: Povos Indígenas - o Inpa e a comunidade, encerrada na última sexta-feira, no Bosque da Ciência, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

O encontro serviu para apresentação dos principais resultados dos projetos realizados pelo Inpa em parceria com a Fundação Estadual dos Povos Indígenas (Fepi) em comunidades indígenas do interior do Amazonas, em resposta às solicitações das próprias etnias. As pesquisas foram financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Os dados foram levantados por meio de palestras, reuniões, questionários sócio-econômicos feitos pelos pesquisadores e aplicados junto às pessoas das comunidades. O objetivo era de saber como vivem os indígenas, formas de obtenção de renda, agricultura, processos educacional e cultural, entre outros.

As informações serão utilizadas para subsidiar o relatório que será elaborado com a participação dos pesquisadores, dos órgãos de ensino e pesquisa e dos representantes das comunidades indígenas, o qual subsidiará as políticas públicas do Amazonas.

Em relação à perda da identidade cultural, Cordeiro disse que isso vem acontecendo ao longo dos anos, principalmente, pela falta de interesse dos mais novos em aprenderem os costumes com os mais antigos. Além disso, outro fator que também tem contribuído é a morte dos índios mais velhos.

"Uma alternativa é fazer a documentação dos contos, cantos e mitos das comunidades e promover a revitalização das línguas indígenas", sugeriu.

O problema da perda da identidade dos grupos indígenas também foi apontado pela pesquisadora do Inpa, Ana Carla Bruno, doutora em Antropologia e Lingüística pela Universidade do Arizona (EUA), como grave e que merece medidas urgentes.

Ela disse que durante uma avaliação preliminar feita com grupos indígenas dos municípios de Humaitá e Manicoré foi verificado que a educação indígena só funciona na teoria, na prática ela não é respeitada. Ela é a coordenadora do projeto "Educação, resgate e revitalização cultural: etnias indígenas de Humaitá e Manicoré".

"Os indígenas têm que se adaptar ao modelo e ao calendário educacional implantado pelos municípios. O material didático não é adequado à realidade dos grupos, mas ao que é fornecido pelas prefeituras. Os livros não retratam a história de vida deles. Em Manicoré, as populações já não falam mais as línguas de origem. Desde o século XVIII não se fala mais Tora e desde o XIX não se fala mais mura", alertou a pesquisadora.

De acordo com Bruno, as comunidades que estão envolvidas no projeto não falam mais a sua própria língua. Contudo, elas desejam fazer um trabalho de revitalização. Ela disse que uma situação diferente foi constatada em Humitá.

"No
município, as três etnias da região: tenharim; parintintim e diahoi, ainda falam a própria língua. Todavia, no caso dos diahoi, a população é menor e, de fato, os mais velhos não falam mais", alertou.

A pesquisadora destacou que a saída para os problemas são parcerias com as secretarias municipais, já que são elas que implantarão as políticas públicas. Por isso, a idéia, na segunda fase, é realizar quatro oficinas para capacitação das pessoas que estarão envolvidas no processo.

Os assuntos abordados nas oficinas serão: revitalização cultural e lingüístuica; patrimônio material e imaterial e legislação e educação indígena. "Também queremos permanecer por mais tempo nas áreas indígenas observando o modo de vida de cada etnia para, então, promover as oficinas para os professores", explicou.

Bruno acrescentou que durante as oficinas vai ser discutido com os grupos indígenas a elaboração do material didático. Ela enfatizou que serão os próprios índios que farão os materiais didáticos e que, os pesquisadores irão apenas orientá-los.

Turismo científico desordenado prejudica meio ambiente

Outro problema apresentado durante a Oficina: Povos Indígenas - o Inpa e a comunidade foi à falta de planejamento do turismo científico, que vem degradando o meio ambiente na região do Baixo Rio Negro. A situação foi apresentada pelo pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Jackson Rego.

Ele disse que há turismo no local, contudo de forma desordenada, com a exploração indevida dos recursos naturais e descaso com as populações locais.

"Essa forma de turismo não gera benefício às comunidades e nem ao meio ambiente. A idéia é aproveitar o potencial existente e divulgar a importância e a necessidade da conservação da riqueza amazônica, tanto em relação ao patrimônio natural quanto aos saberes tradicionais", disse Rego.

Segundo o pesquisador, a saída encontrada pelas comunidades para tentar reverter o quadro foi à proposta de parceria entre a Fepi e o Inpa. Rego destacou que as comunidades estão preocupadas com a falta de conscientização dos guias e dos turistas, por isso, eles apresentaram suas demandas ao Inpa.

"Eles solicitaram dos pesquisadores a elaboração de um projeto para ordenar o ecoturismo na região, o que foi unido à proposta de etnoconservação, ou seja, a idéia da conservação das diferentes culturas indígenas", falou Rego. Ele é o coordenador do projeto "Turismo e Etnoconservação no Baixo Rio Negro", implementado com recursos da Fapeam.

O coordenador do projeto disse que muitos dos problemas atuais dos guias são causados por falta de preparo. "Geralmente, eles invadem as comunidades sem pedir licença. Às vezes, entram na casa do indígena, tiram foto, vão embora e não deixam nada para as pessoas", reclamou Rego, que é doutor em Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, pela Universidade de Brasília (UnB), e em Ordenamento Territorial e Meio Ambiente, pela Universidade de Granada (Espanha).

Ele explicou que durante a segunda fase do projeto serão realizadas oito oficinas, todas direcionadas ao treinamento das comunidades. A intenção é capacitar os indígenas para que eles mesmos possam elaborar as políticas públicas voltadas para o turismo local.

E, adianta: "da forma que está, não pode continuar, porque não há uma relação amistosa entre as partes, o que há é uma invasão", resignou-se.

Rego explicou que as oficinas vão servir para que os comunitários aprendam sobre turismo, etnoecologia, etnoconservação, artesanato, culinária indígena, resgate da cultura etc. Já a última fase consistirá em uma apresentação pública dos resultados das oficinas, por parte dos indígenas, com a realização de um grande seminário no Centro Cultural dos Povos da Amazônia, em Manaus.


Data: 23/05/2007