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Especialistas apresentam diferentes visões sobre aquecimento global

Ao mesmo tempo que meteorologistas prevêem neve na serra catarinense e recorde de temperatura baixa para o mês de maio, na UFSC um seminário discute mudanças climáticas e modelos de previsão

 

Na manhã dessa quarta-feira (23/5), conceituados pesquisadores de várias instituições do país apresentaram interpretações científicas para o fenômeno do aquecimento global e debateram futuras projeções meteorológicas para o planeta e suas implicações no sul do Brasil.

 

O evento faz parte da 28a Semana de Geografia, que acontece até sexta-feira no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH).

 

Aquecimento

 

O primeiro palestrante foi Francisco Eliseu Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que desde 1995 vem monitorando as variações climáticas na Antártida e suas implicações para o hemisfério sul.

 

Com uma formação interdisciplinar em geografia, climatologia e glaciologia, Aquino defende que as mudanças no clima provocadas pelo aquecimento global estão provocando acentuadas perdas de massas de gelo.

 

Neste sentido, destacou a importância das regiões polares para o equilíbrio do clima, pois 90% do gelo da terra está concentrado na Antártida. Ele apresentou vários relatórios para comprovar que nos últimos 15 anos a perda de gelo foi acelerada, sustentando com isso o aumento da temperatura global.

 

O pesquisador defendeu os glaciais como o melhor arquivo histórico natural do planeta, pois acumulam fiéis indicativos sobre impurezas e temperaturas médias que ocorreram no passado.

 

"Uma vez que as atividades humanas interferem no sistema natural, alterando a química na atmosfera, o gelo acumulado nos pólos torna-se preciosa ferramenta de pesquisa", disse o professor.

 

Como as últimas décadas foram muito quentes, Aquino faz projeções para o aumento de 4 a 6 graus na temperatura do planeta nos próximos cem anos. Atribui isto ao decréscimo do gelo marinho o que acaba gerando transferência de calor para outras regiões.

 

Francisco Aquino também avaliou as correlações entre a Antártida e as variações climáticas no Rio Grande do Sul. Constatou um aumento médio de 1,5 graus na temperatura nos últimos cinco invernos gaúchos.

 

"A terra está aquecendo em conseqüência das atividades humanas. Com as geleiras derretendo rapidamente é visível a evidência do aquecimento global", finalizou o pesquisador.

 

Mudanças Cíclicas

 

Contrariando as previsões anteriores, o professor Luiz Carlos Molion, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), mostrou vários gráficos defendendo mudanças cíclicas no clima global, com períodos quentes e frios alternando desde a década de 1920.

 

Confrontando os dados apresentados anteriormente e de outras instituições de pesquisa, Molion questiona: "Se nos últimos 500 anos a temperatura se manteve baixa, por que agora o aquecimento deve ser atribuído à atividade humana? Demonstrou que a partir de 1946 tivemos um acentuado aquecimento no planeta maior que temos hoje, período em que a emissão de gases era inexpressiva comparada à atual.

 

Além das pesquisas climáticas, o professor mostrou à platéia três capas da revista Times, com a publicação norte-americana alertando sobre o tempo: "Em 1945 estávamos derretendo, em 1977 congelando e em 2006 novamente morrendo de calor".

 

O pesquisador ainda deteve-se a apresentar várias falhas nos modelos de previsão meteorológica, criticando a mídia pelo fato de seguir as mesmas tendências. Projetou que até 2020 o sol produzirá menos energia. Portanto, sustentou que o clima deve esfriar nos próximos anos. Para ele estamos vivendo um período de resfriamento desde 1998.

 

O professor alagoano criticou o discurso do aquecimento global antropogênico: "Quem tem interesse nisso? Provavelmente o americano Al Gore que recebeu 200 mil dólares do Banco Itaú para fazer suas palestras no Brasil", criticou.

 

Molion acha temeroso dizer que o homem é responsável pelo aquecimento do clima, defendendo como um fenômeno normal o aquecimento que ocorreu na última década.

 

O último palestrante foi Gilvan Sampaio de Oliveira, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe. O pesquisador iniciou fazendo uma ressalva entre as teses antagônicas defendidas anteriormente, enfatizando que é justamente o papel da ciência explorar o contraditório.

 

Demonstrando que os modelos de previsão climática evoluíram nas últimas décadas, superando previsões intuitivas dos meteorologistas do antepassado, Gilvan procurou explicar detalhadamente uma série de fatores que afetam o clima.

 

"Tudo influencia na previsão, desde fatores atmosféricos e terrestres, tais como: solo, nuvens, vegetação, gases, sol, oceano, gelo etc", disse Oliveira. O pesquisador do Inpe fez a ressalva de que nem todos estes elementos são satisfatoriamente conhecidos, pois formam complexos processos de previsão meteorológica que envolve cálculos muitas vezes imprecisos.

 

Oliveira fez alusões otimistas quanto às futuras previsões climáticas, que poderão incorporar cálculos precisos para cada local, com projeções variadas a cada cem metros de medição.

 

Concluindo, atestou o aumento da temperatura para o Brasil, especialmente na região sul, projetando maior intensidade de chuva nos próximos anos. Também concordou que a interferência humana está provocando alterações no clima. Porém considera perigoso apresentar números.

 

O debate foi coordenado por Maurici Monteiro, meteorologista da Epagri. Atendendo curiosidades da platéia, ele não se arriscou a garantir a previsão de neve no Estado, mas adiantou que teremos um acentuado período de baixas temperaturas até a próxima semana.

 

Mais informações no site: http://www.cfh.ufsc.br/semageo28


Data: 24/05/2007