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Ártico perde 15% de seu gelo a cada década, adverte cientista

O meteorologista canadense Michel Béland, um dos grandes especialistas em clima polar, advertiu que a cada década o Ártico perde 15% de sua superfície gelada, fenômeno que está ocorrendo no dobro da velocidade que os cientistas previam.

 

"Caso essa tendência continue, diria que o Ártico não terá gelo já nos próximos 30 ou 40 anos --e não no final do século, como defendem alguns cientistas--, já que as observações vão nessa direção", disse Béland.

 

O especialista, que acumula mais de 25 anos de experiência no estudo do clima polar, mantém uma postura de "pessimismo" em relação ao aquecimento global do planeta, fenômeno que, na sua opinião, "irá se acelerar nos próximos anos".

 

Ele também adverte que essas mudanças levarão ao desaparecimento de todo o gelo do Ártico no verão, o que afetará não apenas esta zona, mas toda a população mundial.

 

Béland disse que alguns cientistas acreditam que esse degelo em massa poderia aumentar o nível do mar em um a seis metros, o que deixaria milhões de deslocados.

 

O especialista está em Barcelona para participar do ciclo de conferências organizado pela Fundação Caixa Catalunya, por ocasião do Ano Polar Internacional.

 

Béland afirmou que os pólos são as zonas do planeta onde, devido às suas características atmosféricas e climáticas, os efeitos da mudança climática são mais intensos. Por isso, o que acontecer nesse lugar pode servir de aviso em relação ao que pode ocorrer no resto do planeta.

 

"São como sentinelas, como reservatórios do que acontece nas regiões temperadas", disse Béland.

 

"O risco é que essa mudança de clima ocorra tão depressa que não dê tempo às espécies de se adaptar.

 

Os ursos polares, por exemplo, precisam de gelo para caçar focas, mas agora esse gelo está tão longe do litoral que têm de nadar distâncias muito longas para chegar a ele, e muitos se afogam", denunciou. Segundo Béland, até o momento houve uma redução de 20% da população de ursos polares.

 

O especialista, que preside a Comissão de Ciências da Atmosfera da Organização Meteorológica Mundial, disse também que as mudanças nas regiões polares têm grande incidência no clima do resto do planeta, assim como na circulação dos oceanos.

 

"Se os pólos se aquecerem demais, essa circulação pode ser interrompida, o que teria grandes impactos no clima europeu. Se a corrente do golfo fosse interrompida, o clima da Europa seria completamente diferente do que é agora", considerou.

 

Michel Béland trabalha como assessor especial do Ministério da Ciência do Canadá.


Data: 28/05/2007