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Morcego ajuda a manter a biodiversidade da caatinga

Segundo estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os mamíferos voadores ocupam o terceiro lugar entre os animais que mais transportam grãos e são os responsáveis pela polinização de 13% dos vegetais típicos do Sertão

Os morcegos ocupam o terceiro lugar entre os polinizadores da caatinga e atingem índice de transporte de grão de pólen maior do que o registrado na mata atlântica e no cerrado.

Pesquisa da UFPE revela que 13% dos vegetais típicos do Sertão são polinizados pelos únicos mamíferos voadores, enquanto que nos outros dois ecossistemas as taxas ficam entre 1,8% e 4%, respectivamente.

O transporte de grãos de pólen por esses mamíferos voadores foi observado no Sítio Riacho, no Vale do Catimbau, em Buíque, no Agreste do Estado, e na Fazenda Saco, em Serra Talhada, no Sertão.

As abelhas, com 43%, estão em primeiro lugar na lista de agentes polinizadores. Em segundo lugar vêm os beija-flores, com 15%.

Isabel Cristina Machado, pesquisadora e professora de Ciências Biológicas e Ambientais do Depto. de Botânica da UFPE, acredita que as formações rochosas da região, a vegetação e a presença de cavernas – ambiente que favorece o desenvolvimento desses mamíferos – poderiam justificar o alto índice de polinização por morcegos em plantas da caatinga.

O animal poliniza a planta ao usar a língua para se alimentar de néctar. É que, quando pousa numa flor, o pólen fica agarrado aos pêlos do animal.

Ao se alimentar do néctar de uma outra flor (ou da mesma) o morcego leva o pólen, que guarda o gameta masculino da planta, para o estigma, canal que conduz até o ovário, onde estão os óvulos. Após a fecundação, ocorre a formação de frutos.

De acordo com a pesquisadora, apenas duas espécies de morcegos (Lonchophylla mordax e Glossophaga soricina) visitam bromélias e cactos nos locais estudados.

“Elas são atraídas pelo odor forte e pelas cores das flores, geralmente, brancas, beges e esverdeadas. Outro ponto que facilita é o horário de florescimento dos vegetais, que acontece sempre à noite, quando os morcegos estão em atividade”, diz a professora, que fez o trabalho com a colega Ariadna Lopes.

As visitas são realizadas sem o morcego pousar na flor e dura milésimos de segundos.

O estudo surpreendeu as professoras. Elas esperavam que, devido às condições climáticas dos locais que sofrem com a estiagem, a maioria das espécies realizasse a autopolinização, sem a necessidade de animais para fazer o transporte do pólen.

“Descobrimos que 60% dos tipos de vegetais encontrados na caatinga dependem de animais para garantir a fecundação da planta”, explica Isabel Cristina Machado.

Foram estudadas 147 espécies de vegetais, sendo 24 árvores, 62 arbustos, 35 ervas, 21 lianas e cinco epífitas. O material está no herbário da UFPE.


Data: 18/06/2007