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Só 0,2% das escolas públicas tem desempenho de país desenvolvido

De 55 mil unidades do país, 160 têm Índice de Desenvolvimento da Educação Básica igual ou maior que 6

Apenas 0,2% das escolas públicas brasileiras chega a um índice considerado médio entre países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em qualidade do ensino.

Elas são 160 escolas - do total de mais de 55 mil - que têm Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) igual ou maior que 6,0, numa escala de 0 a 10. A classificação foi feita pelo Estado a partir dos dados do Ideb por escola, que serão divulgados hoje pelo Ministério da Educação (MEC). Há cerca de dois meses, o governo lançou os mesmos indicadores por município.

A comparação com nações da OCDE pode ser feita porque o governo federal projetou o Ideb, que só existe no Brasil, para países estrangeiros, levando em conta a participação em avaliações internacionais, como o Pisa (que mede conhecimentos de leitura, matemática e ciências).

O Ideb considera o desempenho dos alunos na Prova Brasil, exame realizado por todas as crianças de 4ª e 8ª série do país, e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), feito por amostragem.

Além do resultado das provas, o MEC usa índices de aprovação dos alunos para compor o Ideb. Segundo o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep/MEC), Reynaldo Fernandes, o cálculo que criou índices para os estrangeiros usou uma taxa de aprovação de 97%, considerada média nesses países, além da participação no Pisa.

Assim, a Holanda, por exemplo, ficou com Ideb 7,0 e o Reino Unido, com 6,5. A média dos países da OCDE é de 6,0, valor que também foi considerado como meta a ser atingida pelo Brasil até 2021.

Apesar de apenas uma pequena parcela das escolas brasileiras chegar a esse índice, há unidades que têm desempenho superior a países com educação de excelência, como Coréia e Finlândia. É o caso da escola Prof. Guiomar Gonçalves Neves, em Trajano de Morais, no Estado do Rio, que teve Ideb 8,5 e é a melhor do país.

A escola municipal Helena Borsetti, em Matão, no interior de São Paulo, também tem Ideb superior ao projetado para a Holanda. Ela é terceira no ranking das melhores do Brasil, de 1ª a 4ª série, e a mais bem colocada de São Paulo.

O Ideb é 7,3. Segundo o secretário de Educação de Matão, Alexandre Luiz Martins de Freitas, a grande razão do sucesso da escola é que ela está inserida no ambiente e na comunidade locais.

A unidade, que tem cerca de 260 alunos, fica quase na zona rural de Matão. Das janelas, os alunos vêem só a terra vermelha característica dessa região do interior do Estado. Mas, dentro da escola, há cozinha experimental que usa alimentos plantados lá mesmo, laboratórios e salas amplas com poucos alunos. O currículo foi adaptado para crianças do meio rural, incorporando noções de agricultura e pesquisas da realidade local.

“Os professores são engajados, é uma escola que dá muito pouco trabalho”, diz o secretário.

Dentre as 55.967 escolas que fazem parte do índice, apenas 0,01% - ou 9 delas - têm Ideb equivalente ao da escola de Matão. Outras 33 unidades de ensino, o que representa 0,05% do total, chegam a 6,5 e se equiparam ao Reino Unido.

Meta

Segundo o presidente do Inep, as escolas que chegam a índices semelhantes aos encontrados em países desenvolvidos e com educação reconhecidamente de qualidade mostram apenas desempenhos pontuais.

“Para a Holanda toda, como país, ter um índice de 7,0, ela tem de ter várias escolas com Ideb muito maior que isso”, explica.

Ele acrescenta que a meta do Brasil de chegar a um Ideb médio de 6,0 - hoje é de 3,8 nas séries iniciais do ensino fundamental - não quer dizer que todas as escolas ou municípios tenham de ter esse valor de índice.

O material divulgado pelo MEC hoje vai mostrar que cada escola tem um meta diferente para 2021, de acordo com seu desempenho atual. A data foi assim fixada devido às comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, em 2022. Mesmo escolas que já tenham passado da média 6,0 hoje terão de melhorar.

Atualmente, há 12.857 escolas de 1ª a 4ª séries com Ideb igual ou maior que o índice médio brasileiro, de 3,8. Outras 6.841 de 5ª a 8ª séries estão com índice igual ou superior à média, que é de 3,5.

Saiba mais

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica leva em consideração dois fatores que interferem na qualidade do ensino. São eles: o rendimento escolar, por meio das taxas de aprovação, reprovação e abandono, e as médias de desempenho dos alunos nas avaliações nacionais - Saeb e Prova Brasil.

A combinação entre o fluxo e a aprendizagem resulta em uma média para cada Estado, município e escola e para o país que varia numa escala de 0 a 10.

Em abril, o governo federal divulgou o Ideb por municípios e Estados. À época, Ramilândia (PR) ficou entre os últimos colocados no índice de 1.ª a 4.ª séries, mas foi detectado que o município preencheu os dados de aprovação e reprovação de forma errada. O erro foi corrigido e o índice da cidade melhorou.

A importância do Ideb é que ele será usado pelo MEC como indicador para verificar o cumprimento das metas fixadas no Compromisso Todos pela Educação, o que resultará em mais recursos. Há “notas” para cada fase do ensino fundamental - de 1.ª a 4.ª séries e de 5.ª a 8.ª séries - e, quando houver dados, para o ensino médio.


Data: 21/06/2007